A Prefeitura de Salvador apresentou na ultima segunda-feira (20), o Rolê Afro, uma série de 11 roteiros turísticos e 30 pontos de visitação de experiências afrocentradas na capital baiana. Também foi lançado o Comitê de Afroturismo, pioneiro no Brasil, formado por diretores de agências, empreendedores e outros profissionais ligados ao segmento, com o objetivo de ajudar a gestão municipal na elaboração de políticas públicas para a promoção e divulgação do turismo afrocentrado.
O prefeito Bruno Reis afirmou que a ação é mais um passo no posicionamento da capital baiana como Salvador Capital Afro e mais um estímulo ao afroturismo da cidade. “Salvador sempre foi conhecida mundialmente por sua gastronomia, suas belezas naturais e seu rico patrimônio histórico. Quando você junta esses atributos, já somos uma cidade singular no mundo. Agora, estamos dando um passo além”, disse.
“Estamos deixando como legado a cidade ser reconhecida por aquele que é, sem sombra de dúvidas, o seu principal ativo: o fato de sermos a cidade mais negra fora da África e todo o patrimônio cultural afro-brasileiro. Temos muito orgulho disso e todo o nosso trabalho tem sido neste sentido”, completou Bruno Reis.
O gestor lembrou que Salvador tem se posicionado para o Brasil e para o mundo como Salvador Capital Afro, sendo este o foco das principais políticas públicas de cultura e turismo. Destacou também que o segundo Prodetur do município terá como foco o Centro Histórico e o apoio a empreendedores negros. Além disso, citou investimentos dos últimos anos como a requalificação do Mercado Modelo e a criação de novos espaços, a exemplo da Casa das Histórias de Salvador (CHS) e a reabertura do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab).
Presidente do consórcio que elaborou os Rolês Afro, Sueli Conceição reafirmou o lugar único de Salvador como destino turístico afrocentrado. “Salvador possui atributos muito importantes e relevantes para ser uma potência mundial do afroturismo. Nossas características e historicidade trazem essa peculiaridade e nos potencializam nesse sentido”, apontou.
Segundo ela, foi adotada uma metodologia participativa na construção dos “rolês”, com a contribuição essencial de quem já sustentava o afroturismo na cidade. “A gente construiu esses roteiros a partir das narrativas dos atores e atrizes que já participavam da cadeia, muito em um contexto de serviços. Hoje, com a proposta de transformá-los em protagonistas, muda completamente o formato de participação na cadeia turística”, disse.
Integração – O secretário municipal de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho, explicou a importância de organizar os roteiros e qual foi o papel da Prefeitura nesse processo. “Esses roteiros não existiam. Nós tínhamos várias iniciativas pontuais, vários pontos que não estavam coordenados. E agora conseguimos potencializar toda a rede de afroturismo ao conectá-los. Se a gente quer se estabelecer como um ponto de afroturismo, como Capital Afro do mundo, a gente precisava organizar esses roteiros”, afirmou.
Tourinho destacou também o caráter reparador das políticas de afroturismo em desenvolvimento na cidade. “Se nosso turismo é baseado na cultura e a cultura é negra, por que os negros não se beneficiam do mercado de turismo? Por que essa estrutura é somente para empresários brancos, de outras gerações?”, questionou.
A secretária municipal de Reparação (Semur), Ivete Sacramento, reforçou a exclusão histórica da população negra no mercado turístico local e as mudanças promovidas pela Prefeitura para mudar esse cenário. “Estávamos excluídos há séculos. A gente queria dinheiro no bolso. A gente não queria só fotografia e filme. A gente queria dinheiro no bolso do preto. Que o dinheiro fosse negro, para fazer frente a quem usava a população negra para ganhar dinheiro. A gente está falando disso: dos empresários e empresárias anônimos que conservaram esse turismo negro até hoje e nunca tiveram retorno monetário”, disse.
Ivete acrescentou que a Prefeitura elevou a reparação a um projeto de gestão. “O Salvador Capital Afro é uma forma de a gestão dizer que a reparação não se restringe a uma secretaria; perpassa por toda a gestão de Bruno Reis”, avaliou.
Pesquisa – A relevância do afroturismo para o mercado soteropolitano foi explicitada em dados apresentados a partir da primeira pesquisa sobre afroturismo no Brasil, com a aplicação de dois questionários – um específico sobre afroturismo e outro geral. Foi relevado, por exemplo, que turistas pretos e pardos ficam, em média, mais tempo em Salvador, quando comparados com o perfil geral.
Segundo a pesquisa, 21% dos turistas pretos e pardos ficam hospedados mais de 10 noites na capital baiana. “É um público que de fato escolhe Salvador e sabe por que está escolhendo. Estamos estruturando esse ambiente com os roteiros para poder fazer esse turista ficar mais tempo em nossa cidade”, disse o subsecretário da Secult, Walter Pinto Jr.
Dos turistas estrangeiros que visitam Salvador, aproximadamente 25% são dos Estados Unidos. Os números apontam que os viajantes negros americanos gastaram, em 2019, US$ 129,6 bilhões em viagens de lazer nacionais e internacionais. Desse grupo, 45% indicam que questões de raça desempenham um papel importante na escolha da viagem e 70% dizem se influenciar por destinos acolhedores para viajantes negros.
Roteiros – O projeto Rolê Afro integra o Plano de Desenvolvimento do Afroturismo realizado pela Prefeitura através da Secult e da Semur. O projeto tem apoio do consórcio formado pela Àwá Ações Afirmativas, Target Euro e Artès, no âmbito do Prodetur Salvador. Todo o material digital do Guia de Afroturismo está disponível no link https://linktr.ee/roleafro.
Veja abaixo a descrição dos roteiros:
Rolê 1 – “História, luta e liberdade”. Ponto de encontro: Casa do Benin. Pontos de visitação (estimativa 4h): Igreja do Rosário dos Pretos / Sociedade Protetora dos Desvalidos
Rolê 2 – “Encantos de Oxum”. Ponto de Encontro: Terreiro de Jesus. Pontos de visitação (estimativa 4h): Instituto Kimundo / Loja Negros Solidários / Espaço Preto Fala de Amor/ Bella Oyá / Casa Dumato / Restaurante Zanzibar
Rolê 3 – “Heroínas negras”. Ponto de encontro: Monumento Maria Felipa. Pontos de visitação (estimativa 3h): Elevador Lacerda/ Memorial das Baianas de Acarajé/ Museu Nacional de Enfermagem/ Instituto Kimundo
Rolê 4 – “Das artes”. Ponto de encontro: Muncab. Pontos de visitação (estimativa 3h): Galeria Raimundo Santos Bida / Cabuloso Ateliê de Arte e Cultura
Rolê 5 – “Sabores da cidade”. Ponto de Encontro: A ser definido com o cliente. Pontos de visitação (estimativa 4h): Feira de São Joaquim/ Memorial das Baianas de Acarajé/ Museu da Gastronomia
Rolê 6 – “Encantos do Abaeté”: Ponto de encontro: Parque Metropolitano Lagoas e Dunas do Abaeté. Pontos de visitação (estimativa 4h): Bloco Afro Malê Debalê/ Terreiro Axé Abassá de Ogum
Rolê 7 – “Força das Àguas”. Ponto de encontro: Transfer a partir do hotel dos visitantes. Pontos de visitação (estimativa 4h): Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho/ Casa de Yemanjá/ Acarajé da Dinha/ Largo da Mariquita
Rolê 8 – “Quilombismo”. Ponto de encontro: Praça Castro Alves. Pontos de visitação (estimativa 3h): Monumento a Zumbi dos Palmares – Sociedade Protetora dos Desvalidos / Cabuloso Ateliê de Arte e Cultura/ Galeria de Arte Sal e Terra/ Muncab / Casa do Benin / Restaurante Zanzibar
Rolê 9 – “Liberdade-Curuzu Tour – Circuito Sérgio Roberto”. Ponto de encontro: Monumento Maria Felipa. Pontos de visitação (estimativa 3h): Praça Nelson Mandela / Feira do Japão / Entrada do Curuzu / Memorial e Busto de Apolonio / Salão de Geruza Menezes / Vodun Zo / Ile Aiyê / Casa de Maria Felipa / Casa de Sergio Roberto / Jitolu
Rolê 10 – “Rota Afro Congo Bahia”. Ponto de encontro: Parque Pedra de Xangô. Pontos de visitação (estimativa 4h): Parque Pedra de Xangô / Sede Afoxé Filhos do Congo
Rolê 11 – “Vivência de Fé – Terra Santa dos Alagados”. Ponto de encontro: Base Comunitária da PM / Final de Linha do Uruguai. Ponto de visitação (estimativa 2h): Paróquia Nossa Senhora dos Alagados.
Foto: Valter Pontes / Secom PMS