CAPITULO VIII | Domingo, 01 de fevereiro, 2015, 08h00, meus filhos e meu esposo levaram-me ao Hospital Aristide Maltez. Foi o dia do meu internamento.
Após um ano em tratamento com quimioterapia chegou o dia em que seria realizada a cirurgia tão aguardada, a cirurgia para a remoção do tumor e da bolsa de colostomia.
Antes, porém passei quatro dias em preparação pré-operatório em minha casa, a base de dieta liquida e medicação purgativa seguindo instrução médica.
Após palestra fomos encaminhados pela enfermeira chefe ao setor de internamento, fui instalada em uma enfermaria ampla, limpa, arejada, ótimo banheiro, excelente acomodação, não havia superlotação, apenas seis leitos.
Minha família foi embora, retornariam pela manhã para aguardar a cirurgia, fiquei tranquila confiante em minha fé.
O principal foco da cirurgia era a remoção total do tumor e a coleta de material para uma nova biopsia. Mas, minha expectativa maior por mais estranho que pareça era a remoção da bolsa de colostomia. Eu estava vivendo uma vida um tanto quanto sofrida e desconfortável com os incômodos que o estoma estava causando em consequência do intestino grosso que se deslocava quase que completamente para fora do meu ventre.
Então minha razão e emoção promoviam-se em um único pensamento: “vou tirar a bolsa de colostomia!” E sorria feliz igual a uma criança quando sabe que vai ganhar o presente tão desejado. Fiquei o dia e a noite que antecede a cirurgia em jejum total. À noite passei por três aplicações de lavagem estomacal, foram momentos dolorosos, não físico, e sim emocional, até a enfermeira encarregada deste procedimento, chorou comigo compadecida ao segurar meu intestino e testemunhar toda a dificuldade ao tentar injetar nele a medicação, quando conseguiu, ela me disse emocionada: – Amanhã sairei de folga por três dias, mas farei questão de vim aqui dar um abraço na senhora, porque tenho certeza que o cirurgião irá te libertar deste sofrimento.
Eu agradeci contente.
Segunda-feira, 02 de fevereiro dia da cirurgia. Dormi bem acordei disposta e confiante, a cirurgia seria realizada às 13h00min. Meu esposo e meus filhos chegaram logo cedo ao hospital, mas só foi permitido que meu esposo me acompanhasse na enfermaria meus filhos aguardaram na sala de espera. Às 12h40min duas enfermeiras do centro cirúrgico vieram com a maca me buscar. Chegou a hora.
– Que bom meu Deus! Que bom, já vou fazer a cirurgia! Foi este o meu pensamento, não houve em nenhum momento medo, somente ansiedade boa.
Fiquei impressionada com a tecnologia moderna, a organização do centro cirúrgico e a postura gentil dos profissionais do setor. Observei tudo isso no pouco tempo que fiquei na sala que antecede a entrada à sala de cirurgia.E o melhor de tudo, eu seria operada pela melhor equipe de proctologista do hospital. Percebe o quanto eu estava tranquila? Eu tinha todos os motivos para me tranquilizar.
A enfermeira técnica levou-me para a sala de cirurgia e iniciou o procedimento de preparação, enquanto assim procedia a anestesista e o cirurgião veio falar comigo e me passaram bastante positividade.
Fui anestesiada e logo adormeci, quando acordei um tanto quanto sonolenta não estava mais na mesa de cirurgia tudo já tinha acontecido com o sucesso permitido por Deus, eu estava na maca, mas continuava na sala, o cirurgião aproximou-se e gentilmente e me falou que tirou o tumor e a bolsa, eu peguei a mão dele e a beijei agradecida.
Devido ao efeito da anestesia adormeci novamente, quando despertei estava sendo levada para a enfermaria, no trajeto observei um grande relógio em uma parede, olhei um tanto distraída para as horas já era noite eram 19h15min. Repentinamente comecei um pensamento alarmante: “Será que o cirurgião tirou mesmo a bolsa”? “Ele falou comigo ou sonhei”? Logo, logo essa dúvida dissipou-se eu ainda estava no efeito da anestesia.
Ao chegar à enfermaria vi meu filho Adson Alan e meu marido Carlos, os dois estavam ansiosos a minha espera , sorrira aliviados, eu cheguei e estava bem.
Cuidadosamente as enfermeiras puseram-me no meu leito, fiz sinal para Carlos aproximar-se, porque naquele momento eu não podia falar, coloquei minha mão sob o abdômen, ele entendeu o meu gesto, eu estava querendo saber se ali não estava mais a” bolsa”, então ele levantou o cobertor, olhou e me disse que a bolsa foi removida. Sorri contente e em meio ao contentamento e a sonolência ouvi a voz do meu filho Adson Alan me convidando a orar em agradecimento, concordei, iniciamos a oração do “Pai Nosso” e não sei como foi a continuação porque adormeci novamente.
Acordei cinco horas da manhã e meu primeiro pensamento foi a “bolsa”, com um pouco de receio levantei o cobertor vi dois enormes curativos em minha barriga e em um deles (onde estava o estoma) tinha uma grande mangueirinha conectada a um recipiente redondo, fiquei assustada, em minha mente surgiu um pensamento alarmante: Meu Deus, o cirurgião não tirou o estoma!
A tristeza quis tomar conta do meu ser, não permiti, conclui para mim mesma, que, se o cirurgião não tirou, porque ainda não era o momento e que com certeza ele fez algum reparo para que o meu intestino grosso não se deslocasse mais, eu só não estava entendendo o que era aquela mangueirinha e o recipiente redondo. Entreguei-me a Deus e voltei a dormir.
Acordei 7:00hs com uma enfermeira me chamando, era a enfermeira que fez a lavagem retal em mim e que prometeu me visitar após cirurgia. Sorridente ela me abraçou, então, timidamente perguntei se o cirurgião tirou a bolsa, ela respondeu que sim e me parabenizou. Que alegria meu Deus, obrigado por esta graça, este presente! “Clamei a vós Senhor e vós convertestes o meu pranto em prazer, tiraste minhas vestes de penitência e me cingiste de alegria”, (salmo 29,12).
Perguntei para a enfermeira o que era aquela mangueirinha e o recipiente, ela disse que era um dreno para drenar todo e qualquer vestígio de sangue presente no local da colostomia e assim evitar uma infecção e que eu usaria até o dia que da minha alta.
Graças a Deus estava tudo bem, ela fechou o acesso do soro porque estava na hora do meu banho. Tomei banho sozinha, não careci de ajuda, segurei o dreno com uma mão e com a outra fiz os procedimentos de um banho, foi tranquilo.
Eu e Juliana |
Eu em casa |
Disfarcei minha tristeza para que meu filho John, que foi comigo nesta consulta, não ficasse preocupado.
Não é tarde para mim. Enquanto houver amanhã, um novo dia, continuará cedo para mim.
Há vitória? certamente que sim. Sou vitoriosa na coragem e resistência, em não esmorecer, não lamentar. Há vitória no ouvir de Deus as minhas súplicas, nos momentos em que a situação está difícil ele vem em meu socorro e tudo se suaviza. Há vitória no saber esperar, em tudo valorizar. Há vitória no viver bem em qualquer situação da vida.
Não permitirei que pensamentos pequenos abalem a estrutura da minha razão e emoção.