CAPITULO IX | Apesar do fato de todos nós sabermos que a vida nunca nos deu uma garantia de que coisas ruins não acontecem conosco ou com nossa família, por vezes somos tomados de surpresa por um golpe que paralisa nossa vida, paralisa nosso ser e que parece impossível de vencer, de ultrapassar esse obstáculo.
Mas, podemos se assim quisermos, nos determinar para lidar com a situação e viver a vida de uma forma positiva, alegre e esperançosa, ainda que possa ser muito difícil, nós é que decidimos manter-nos num sentimento capaz ou incapacitante.
Não desistir, seguir em frente. Se tropeçar fazer do tropeço um equilíbrio, algo maravilhoso, ser igual ao tempo…
Era uma vez… menina sertaneja, infância sofrida, juventude marcada por dificuldades e decepções. Superou a tudo com alegria e sonhos provenientes de todo adolescente. Tornei-me mulher, por vez errando, por vez acertando, casei-me, constitui família estruturada com base no amor, interação, honestidade, confiança e fé.
Cotidiano normal, vivencia conforme possibilidades. Na medida do possível tudo transcorria bem, “querer” conquistado, metas se cumprindo, tudo ao seu tempo. De repente o medo bateu em minha porta, paralisou minha vida, assustou o meu ser, trouxe dor para minha família.
Como viver um câncer que se espalhou em meu corpo, tomou os meus órgãos?!?! Tenho saída?! Onde está a saída?! Tribulação! Tribulação! Aquietei-me, sabia que tinha saída, eu deveria buscar a razão acima da emoção. Ergui a cabeça, olhei para frente, sim, para frente, lá estava minha fé, minha ponte para a saída, meu caminho para Deus, para a determinação, coragem e resistência.
É uma vez… Passei pela primeira cirurgia e mesmo estando muito fraca e debilitada pela ação do câncer, resisti muito bem aos procedimentos cirúrgicos. Vivi dignamente um ano com uma bolsa de colostomia e mesmo no período em que ficou sofrido resisti bravamente, pois tinha total consciência que “aquela bolsa de colostomia” estava ali para o meu melhor.
Minha confiança na intervenção divina fortificou meu organismo que resistiu positivamente à quimioterapia agressiva e continua resistindo à quimioterapia paliativa (ainda estou em tratamento). Minha vida segue em frente, não me permito parar.
Ao me sentir fortalecida, dei continuidade à minha graduação em pedagogia através de atividade domiciliar. Realizei novos exames médicos com bons resultados, os quais possibilitaram uma segunda cirurgia para remover o tumor. Passei um ano na expetativa desta cirurgia, a mais esperada. Sou transparente, quando afirmo que foi a mais esperada é porque, além da remoção do tumor, minha vaidade de mulher sobressaia à frente do câncer; a bolsa de colostomia seria removida!
Nesse novo viver aconteceram fatos dos quais não esqueço: Durante minha internação no Hospital Roberto Santos para a realização da primeira cirurgia fiz amizade com duas pessoas maravilhosas, uma paciente e sua irmã, que a acompanhava. Elas me trataram com amizade e carinho; continuo mantendo contato com elas por telefone. Da mesma forma aconteceu no período em que estive internada no Hospital Aristides Maltez para a realização da segunda cirurgia; fiz amizade com uma paciente, uma professora, uma guerreira, vítima de câncer de pele e que estava passando pela segunda cirurgia, com um sorriso confiante e fé inabalável. Ela me disse que sofrimento e momentos difíceis passam quando há coragem determinação e fé. Depois que recebemos alta nunca nos encontramos, mas mantemos nossa amizade através de agradáveis e confortantes mensagens via whats app.
Vitória! Retornei à faculdade, chega de atividade domiciliar, agora somente aulas presenciais, construir pedagogia em sala de aula, minha pedagogia da resistência.
Hoje me sinto mais forte, carrego em mim o dom de ser capaz, me determinei a voltar para sala de aula.
Que aventura maravilhosa pegar o “buzu” lotado, com destino a Cajazeiras, descer na rótula da feirinha e andar quase mil metros até a faculdade (lembram que o ponto de ônibus fica distante da faculdade e que este foi um dos fatores a me impulsionar a desistir da faculdade)? Desistir jamais! Não faço nada pela metade.
Que caminhada revigorante! Eu parecia criança caminhando, sorrindo e falando sozinha… Sozinha vírgula! Falava com Deus, numa total intimidade de causar inveja em um padre, pastor ou beata (risos).
Fui muito bem acolhida na faculdade. Professores, colegas, funcionários presentearam-me com abraços, elogiaram minha coragem, meu querer determinante, falaram que eu sou um exemplo de vida. Expliquei para todos que o verdadeiro exemplo é a fé que nos impulsiona a um viver bom, seja em que momento ou qual situação, a fé vai lá, abre a porta e nos dá opção.
Segui em frente, boa interação em sala de aula com colegas e professores. Me juntei novamente a minha equipe, com a qual construí desde os primeiros semestres. Muito bom, tudo de bom, trabalhos em dupla, avaliações, apresentações! Nossa! Tudo o que quero e gosto! Desenvolvi bem as disciplinas, fiz excelentes avaliações, conclui o semestre com louvor.
Bravo! Possibilitei-me à situação de capacidade e fui aclamada com resposta positiva. Estou em recesso e que venha o próximo semestre! Resistência e mais resistência. Estarei na Faculdade Vasco da Gama e em dois tempos estarei graduada.
Não conheço a estrada, mas conheço o meu rumo. Sigo em frente vivendo dias iguais de forma diferente, não estou sozinha, nunca estive sozinha; Deus, Jesus, Nossa Senhora, meus filhos, meu esposo, minhas noras, amigos, minha amiga Tânia, todos me ajudaram e ajudam a curar e aliviar minha batalha.
Mesmo sem certezas minha vivencia é extremamente positiva, para mim e para minha família. É um aprendizado diário de que batalhas, golpes graves têm possibilidade de ser vencidos, é uma simples questão de encarar as atribulações e adversidades da vida sem se sentir incapaz.
Tornei-me uma pessoa muito melhor, mesmo que meu rumo não tenha sido da forma que gostaria, tudo vale a pena, viver o que há para viver, me permito e sou feliz. Ainda não estou curada, mas sigo em frente.
Continua…