Todo mundo deseja morar no paraíso, mas adentrar não é nada fácil. Para chegar dá muito trabalho. Mas quando você coloca os pés, logo esquece de todo perrengue que passou. Caraíva é assim, tipo Nárnia, quando você ultrapassa o “portal” não consegue mais sair.
Nas férias de 2016 embarquei com duas amigas para passar cinco dias em Caraíva, pensei em visitar outras cidades como Trancoso, Arraial, mas meus amigos que costumam ir pra lá me alertaram: “Vá direto pra Caraíva, não precisa passar em outro lugar”. Então obedeci.
Fomos de ônibus, Salvador x Porto Seguro, 12h de viagem. Chegando lá já tinha um táxi à nossa espera. Mais 2 horas de percurso, travessia de Porto para Arraial de balsa e segue estrada. Nossa, que cansativo! Pensei: “Espero que valha a pena realmente”…
E valeu! Ao atravessar o rio senti um negocio estranho, uma emoção diferente, uma certeza que uma viagem incrí-vel estava para acontecer. ‘As Crônicas de Nárnia’ – mundo fantástico, cheio de magia, mistérios e perigos. Caraíva é assim: têm encontro de rio com o mar, oxum e iemanjá; é coberto por verdes, e o céu encontra o mar.
Meus cinco dias se prolongaram, chegamos a bater em Porto, tristes com a partida, e chegando lá não tinha passagem para Salvador naquele dia.
Sabe criança que ganha o brinquedo dos sonhos? Kkkkkkk Voltamos à Caraíva, com o sorriso tipo melancia, pra passar a última noite no forró e voltar no dia seguinte.
Voltamos 10 dias depois, após varias tentativas de partida sem sucesso, tem algo que te prende lá? …
O medo de não conseguir ir embora era real. E meu trabalho, minha família, meus amigos?
Caraíva fica na Costa do Descobrimento…. Ritos e magias indígenas devem explicar este fenômeno.
O camarada que você conhece hoje vira seu amigo de infância, você vê a paixão da sua vida naquele momento saindo da água mesmo sem nunca tê-lo visto, dias e noites se misturam, 24 horas viram 48, tanta coisa acontece em poucos instantes, e tudo se renova a cada dia.
Gente que fica, gente que vai, gente que chega e você vai ficando.
Praia do Satú. | Foto: Fabi Ferreira
Fiz grandes amizades, formei uma família composta de membros de diversas regiões do país: capixabas, cariocas, paulistas, mineiros… o discurso deles se entrelaçam.
Chegaram à Caraíva pra conhecer e não conseguiram sair mais, tem gente que pediu as contas e nem voltou pra casa para pegar seus pertences.
Gente que foi passar férias e percebeu que aquele era o paraíso que queria morar, gente que vende o carro, pega a poupança e arrenda uma pousada.
Tudo é muito intenso, e apesar dessa vibração mágica, quem saiu da sua cidade pra morar lá, um dia acaba indo embora também.
É como se chegasse o tempo e o lugar te expulsasse, é como se fosse um ciclo de renovação do local, ele expele o velho para receber nossas almas sonhadoras, cheios de brilho no olhar.
E esses ainda voltam?
Com toda a certeza, não se acostumam com a beleza do mar.