Um papo sobre empreendedorismo, valorização das origens e cerveja artesanal

Por Curiando o Rolé

Para entender como a Proa surgiu, você precisa conhecer um pouco da história da gaúcha Débora Lehnen, técnica, barechal e mestra em Química, nascida na cidade de Dois Irmãos, colonizada por alemães. “Meus pais sempre fizeram tudo em casa. Nos anos 80, enquanto todos compravam tudo pronto, mantínhamos a tradição de fazer nosso próprio pão, linguiça e refrigerante. Sempre tivemos horta e tudo era bem sustentável”, conta. 

Foto: Divulgação

Em 2010 fez um curso de cerveja caseira para produzir sua própria bebida. “Era uma diversão, fazia entre amigos”. A composição da breja instigou a mestre a entender melhor a produção da bebida composta de água, malte, lúpulo e levedura. “Como conseguimos tantos estilos diferentes, variação de sabores só com 4 ingredientes?” Mas foi morando na Califórnia, na época do mestrado, que sua curiosidade sobre a bebida aumentou.

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Em 2014, veio morar em Salvador para trabalhar como gerente de Projetos em uma indústria química e ficou em choque ao descobrir que aqui não tinha cerveja artesanal local. Começou a produzir para seu consumo. “Tinha obrigação de fazer uma cerveja boa porque era a que eu ia tomar, as pessoas começaram a se interessar e vi uma oportunidade de mercado. Até porque eu estava me interessando mais pela produção de cerveja do que pelo meu trabalho na época”.

“Decidi: vou trabalhar com isso e se eu vou trabalhar com isso, tenho que fazer isso direito”. Após dois anos na Bahia, largou emprego e foi fazer curso de mestra cervejeira em Blumenau.

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“Passei um ano fazendo o curso, fiz outros de aperfeiçoamento, formei como sommelier de cervejas, estudei o mercado, visitei o maior número de fábricas possíveis, conheci a maior quantidade de cervejas possíveis, sobre como funciona, toda a comercialização, como é o consumo de cada lugar, fiz estágios em algumas cervejarias e voltei para Salvador em 2017 já com a ideia de montar uma cervejaria aqui”, explica.

Proa

A primeira cerveja da Proa começou a ser vendida em junho de 2018, um mês depois, foi aberto o bar de fábrica no município de Lauro de Freitas, onde a bebida é produzida. E em maio do ano seguinte, a marca abriu um bar na Pituba, em Salvador. “Fomos crescendo produção e distribuição em outros pontos de venda de parceiros pela Bahia e em fevereiro deste ano fizemos nossa primeira venda para o Rio de Janeiro”.

Ao falar do nascimento da marca, Débora volta às suas raízes. “A gente é muito as coisas que a gente viveu na vida. Acumulamos os livros que a gente lê e as experiências que a gente tem. Morei na Austrália, Nova Zelândia e Califórnia e me inspiro muito em cervejarias americanas. Lá tem muito o ‘beba local’, cada região tem sua própria cervejaria e eu quis trazer um pouco disso para Salvador”.

Sua ideia era construir algo moderno que remetesse à cidade, que lembrasse praia e mar e tivesse a leveza e alegria que Salvador traz. “Proa lembra mar e é a parte da frente do barco que indica direção. O nome é curto e fácil de lembrar”. Para ela a marca traduz a questão de querer estar à frente e tudo isso liderado por uma mulher. “É contra a maré no mercado cervejeiro, que é bastante masculino”.

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Beba local

Débora explica que a Proa sempre quer trazer muito do local e que isso é o legal da cervejaria artesanal. “Contratar pessoas que sejam daqui. Criar uma ligação com a comunidade, com produtos locais. Procuramos sempre incentivar a economia local para que o dinheiro gire na Bahia.

Representatividade

A mestre cervejeira conta que o legal dela estar à frente da cervejaria é que isso traz representatividade para o setor. “Hoje no Brasil, a Proa é a cervejaria que mais emprega mulheres. Não é uma coisa pensada, a marca atrai, claro, mas eu entrevisto as pessoas de coração aberto”. 61% do time é composto por mulheres.

“Eu represento o setor e a gente sempre procura as pessoas que nos represente. Eu me inspirei em mulheres que estavam no mercado”. E agora este recado é para você que acha que existem cervejas para homens e para mulheres. “Cada qual bebe o que quiser. A gente escolhe o que quer beber”.

Débora Lehnen
Bacharel em Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Mestra em Química pela University of California Irvine/UFRGS
Mestra cervejeira pela Escola Superior de Cerveja e Marketing
Sommelier pela ESCM/Doemens Academy