Diálogos Insubmissos recebe dias 21 e 22 de julho Leda Maria Martins 
Evento marca também as comemorações de 05 anos de criação da plataforma literária
Corpos afro-brasileiros, que descendem de vários grupos étnicos africanos, recriaram seus laços com a cultura do teu povo pela oralidade dos mais velhos, por práticas performativas que celebram o corpo como memória. Uma certa feita, numa mesa de debate, a diretora teatral Onisajé disse: “Um corpo negro em cena não é um indivíduo, ele é a expressão de um povo”. Um corpo que carrega em seus movimentos ancestralidade.
Esta breve introdução é para exemplificar o que quer dizer a pesquisa/livro Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela, desenvolvida pela Leda Maria Martins – poeta, ensaísta, dramaturga e uma das principais pensadoras do teatro brasileiro, sobretudo no que se refere ao teatro negro – que participará nos próximos dias 21 e 22 Julho, em eventos realizados pela plataforma literária Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras (DIMN). 
Para estas atividades – que contam com parceria com a Fundação Luxemburgo e apoio institucional da Sala de Arte/Cinema do Museu (Corredor da Vitória) e Restaurante Roma Negra (Pelourinho), que recepcionam as atividades -, o Diálogos Insubmissos pede a contribuição de absorventes, que irão ser distribuídos a instituições que combatem a pobreza menstrual na Bahia. Nos dois dias, os eventos contam com tradução em Libras.
As ações que integram a 10a. edição do Julho das Pretas iniciam no dia 21 de julho tendo o Cinema do Museu como espaço que recepciona a oficina Escritas e memórias insubmissas de mulheres negras, das 14h às 17h, a ser ministrada pela Dayse Sacramento, doutoranda em Literatura e Cultura – UFBA, produtora cultural e idealizadora do DIMN.
Esta atividade, que dá direito à certificado, pretende refletir a respeito da insubmissão da memória negra a partir de escritos de mulheres negras no Brasil entre os séculos XIX e XXI, sobretudo de textos literários. Além de observar a contribuição destas produções para a preservação da memória negra e nos diversos campos do conhecimento.
“Vamos refletir sobre diversos discursos literários e as transformações ocorridas a partir das emergências sociais nos textos selecionados. Em um viés mais contemporâneo, traremos ainda a insubmissão da memória de mulheres negras jovens na cena da literatura produzida nos SLAMs”, explica Dayse Sacramento, que é professora de língua portuguesa no IFBA.
Com 20 vagas para público geral, a inscrição é no local e dia da oficina, a partir das 13h. Os textos que serão estudados integram obras publicadas pela Fundação Rosa Luxemburgo, que serão distribuídos gratuitamente – Vozes insurgentes de mulheres negras, Insubmissão Intelectual de Mulheres Negras, A radical imaginação política de mulheres negras e Insumos para Ancoragem de Memória negra.
A noite, a partir das 19h, ainda no Cinema do Museu, ocorre a Conferência Insubmissão e Insurgência da Memória de Mulheres Negras no Brasil, com a professora Dra. Leda Maria Martins e mediação Dayse Sacramento.
Já no dia 22 de julho, a partir das 19h, o Diálogos Insubmissos realiza o lançamento do livro Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela – coleção Encruzilhada, Editora Cobogó -, da Leda Maria Martins, no Restaurante Roma Negra. O evento, que é aberto ao público, contará com a participação da doutora em artes Evani Tavares, professora adjunta da escola de teatro da UFBA, que desenvolve uma pesquisa sobre processos criativos, estéticos e pedagógicos, fundados nas culturas negras, numa perspectiva do corpo enquanto instrumento de memória e discurso, particularmente, a partir da capoeira angola.
No lançamento, Tavares e Leda Maria Martins irão falar desse “corpo-tela”, espaço-tempo de performatividade de saberes ancestrais, a partir de um prisma afrodiaspórico. Temática que está presente no livro a ser lançado e que estará disponível para compra no dia do evento.
Dayse Sacramento, que mediará o bate papo, comenta que a vinda de Leda Maria Martins para um evento do Diálogos Insubmissos é um marco importante devido a relevância da produção intelectual do conhecimento desta pesquisadora, dramaturga e ensaísta, que tem uma contribuição teórica a partir de uma vivência ancestral negra, dos reisados de Minas Gerais.
“É dessas memórias que queremos tratar neste evento. É de uma grande generosidade intelectual dela transformar essas vivências negras populares em teoria e conhecimentos acadêmicos.”, descreve a produtora cultural da DIMN.
Livro
A respeito do livro da Leda Maria Martins, Sacramento pontua que a pesquisa de Tempo-Espiralar explora as inter-relações entre tempo, performance, memória e produção de saberes a partir da observação da linguagem do corpo em culturas africanas. Já a professora Leda reforça que nesta pesquisa o passado habita o presente e o futuro, o que faz com que os eventos, desprovidos de uma cronologia linear, estejam em processo de perene transformação e, concomitantemente, correlacionados.
No livro, a autora propõe que a experiência e a compreensão filosófica do tempo podem ser expressas por uma inscrição não necessariamente discursiva e mesmo não narrativa, mas não por isso menos significativa e eficaz: a linguagem constituída pelo corpo em performance, das liturgias do Reinado ao teatro e às artes cênicas. A palavra também se inscreve no corpo, na memória, no tempo.
O volume é dividido em sete composições, que, como células-síntese do pensamento de Leda Maria Martins, podem ser lidas em uma sintaxe consecutiva ou como condensações complementares – assim como o próprio tempo espiralar que as inspira. Dialogando com outros pensadores como Alfredo Bosi e João Guimarães Rosa, Leda Maria Martins desconstrói a dicotomia entre oralidade e escrita enfatizada pelo Ocidente, que prioriza a linguagem discursiva como modo exclusivo de postulação de conhecimento.
Vida e Arte Preta
Nascida no Rio de Janeiro, Leda Maria Martins formou-se em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e realizou mestrado em Artes na Indiana University. Martins tem pós-doutorados em Estudos da Performance na New York University (NYU) e em Rito e Performance na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Entre os livros de sua autoria estão Moderno teatro de Qorpo-Santo, A cena em sombras, Afrografias da memória e Os dias anônimos.
DIMN
Conforme dito acima, estes eventos marcam as comemorações do Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras em torno dos seus 05 anos de muito trabalho, pesquisa, encontros, compartilhamentos de saberes e, sobretudo, muito afeto e cuidado nos mínimos detalhes, em torno de uma perspectiva feminista preta para a literatura. A data marco: 11 de julho de 2017.
A plataforma literária surgiu a partir de um projeto de pesquisa no IFBA, tendo Dayse Sacramento como responsável. Hoje, o Diálogos Insubmissos é uma das mais importantes produtoras literárias do Brasil. Dessa experiência, surge os estudos da tese de doutorado em Literatura e Cultura, na UFBA, de Sacramento. Caminhos literários em festivais, oficinas, workshops e expertise, fazem com que as sócias da DIMN criem uma editora de livros, que tem como base um movimento vivo e pulsante de visibilidade e viabilização da construção intelectual de mulheres negras.
A Editora Diálogos Insubmissos se preocupa com a descentralização da produção de conhecimento e busca contribuir na geopolítica da produção do conhecimento, ao mesmo tempo que também deseja fomentar a circulação de produção intelectual de pessoas negras nos diversos campos como literatura, arte, política, educação.
Vale lembrar que, a Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras é uma iniciativa de Dayse Sacramento que conta com a participaçã de outras intelectuais e pesquisadoras negras baianas, que desde 2017 produz eventos literários de mulheres negras, com participação em feiras nacionais e internacionais, com o objetivo de promover debates e atividades que têm como mote a produção literária feminina negra, que dialogam com outras linguagens artísticas-culturais e políticas-sociais. Hoje, estão a frente Sacramento e Técia Santos.
Neste caminhar de ações literárias, a plataforma esteve presente em uma série de festivais literários do Brasil: FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty; FLIPELÔ- Festa Literária Internacional do Pelourinho; FLIC – Feira Literária de Campina Grande; FLICA – Festa Literária Internacional de Cachoeira, FLIGÊ- Feira Literária de Mucugê, além de ter participado de atividades como o Fórum Social Mundial (2018); o Giro pela Vida – AVON (2019); e a Virada Sustentável Salvador (2019), tantos outros eventos.
Ficha técnica – Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela
Título: Performances do tempo espiralar, poética do corpo-tela
Autora: Leda Maria Martins
Coleção: Encruzilhada
Coordenador da coleção Encruzilhada: José Fernando Peixoto de Azevedo
Idioma: Português
Páginas:
Editora: Cobogó
ISBN: 978-65-5691-043-7
Formato: 14 x 21 cm
Encadernação: brochura
Ano de publicação: 2021
Preço: R$68,00
CDD: 869.4