Depois de uma temporada de dez dias no exterior, o músico baiano, Geraldo Marques, retorna a Argentina ao lado do Mestre Memeu, para participar de um Workshop sobre Samba-Reggae

Nascido no bairro da Federação, em Salvador (Bahia), Geraldo Marques, de 33 anos, deve inestimável parte da sua formação musical e humana à Escola Olodum, onde ingressou aos sete anos para iniciar os estudos em percepção musical e percussão. O que se espelha em seu trabalho na notável pesquisa que realiza sobre a cultura e a música popular nordestina, em um quadro mais amplo; e música afro-baiana, como o samba-reggae – considerado um dos polos mais atraentes da produção artística de Salvador e um dos principais eixos do debate cultural da cidade.

Ter sido formado no solo fértil do Olodum também rendeu ricos frutos na vida de Geraldo, como a elaboração do Repiquesia – Laboratório Criativo – projeto social musical criado pelo percussionista com o objetivo de atender jovens da comunidade da Federação, em Salvador, e que é considerado pelo mesmo como um laboratório percussivo que o permite realizar experimentos com o Samba-reggae. E, assim, explorar a criatividade musical e percussiva a partir de um movimento artístico que efetiva práticas musicais que se conectam com outros processos de gestão, elaboração e experimentação rítmica presentes não só no Brasil como também em outros países da América Latina. Motivo que o leva de volta para a Argentina entre os dias 01 a 03 de abril.

Articulador de uma linguagem musical que tem no tambor o seu elemento de força, Marques é considerado um mestre da Escola Olodum, atuando profissionalmente em várias frentes artísticas, como os dois grupos que lidera no Japão e Taiwan, que objetivam fomentar, formar, e difundir projetos socioculturais que carregam as influências do Olodum e do Samba-reggae – como o próprio Repiquesia.

Colecionador de diversas turnês – seja como percussionista ou ministrando workshops a nível nacional e internacional -, Geraldo Marques traz na bagagem o histórico de participação em importantes eventos, como a 2ª edição do Festival Tambores com Memória onde teve a oportunidade de projetar internacionalmente o Repiquesia – leia-se o samba-reggae e cultura afro-baiana.

Ao idealizar um projeto sólido, com apelo musical, social e político, que fomenta a criatividade e a transcendência de experiências de vida e técnicas, como o Repiquesia – Laboratório Criativo, Geraldo amplia a noção de música popular e insere a Bahia e o Brasil em um processo histórico de intercâmbio artístico; marcado pela troca de experiências direta com pesquisadores e músicos nacionais e internacionais. Uma verdadeira vitória da estética percussiva e da música baiana que, cada vez mais, vai deixando de ser local para assumir o global na arena estético-cultural do mundo.

É exemplo manifesto desse intercâmbio artístico e dessa inserção global a participação do grupo Repiquesia nas comemorações pelo dia “24 de Marzo”, na Argentina. A data é considerada pelos argentinos como Dia Nacional da Memória por Verdade e Justiça para repudiar a Ditadura que acometeu aquele país em 24 de março de 1976. Para o músico Geraldo, sujeito de profunda consciência democrática, o convite é uma importante oportunidade de reafirmar valores democráticos e a importância da cultura do tambor em sua defesa. Afinal, além da alegria, o tambor instaura rituais coletivos de convivência.