Cantora e pianista baiana mostra que a realidade de quem vive de música é feita de trabalho sério e muita dedicação

Quando se fala em carreira musical, é comum pensar em palcos lotados, contratos milionários e milhões de seguidores nas redes sociais. Mas a realidade de quem vive de música no dia a dia é bem diferente — e igualmente digna. Fora dos holofotes do grande mercado, artistas constroem suas carreiras com trabalho, estudo e muita paixão.

A cantora e pianista Luma, de Salvador (BA), é um exemplo disso. Formada em Música Popular pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), ela vive exclusivamente da música: tocando em bares, restaurantes, eventos culturais, realizando projetos próprios e mantendo uma agenda ativa na cidade.

“A música é a minha profissão. Assim como um advogado ou um professor, eu trabalho, recebo meu pagamento, pago minhas contas e sigo construindo minha história”, explica.

A rotina fora dos holofotes

A trajetória de Luma é um exemplo claro de que é possível viver de música sem, necessariamente, estar no centro do mercado pop ou midiático.

Com agenda semanal em Salvador, ela se apresenta em projetos como o “Luma Convida” — iniciativa que promove apresentações com estudantes das graduações em Música da UFBA, no Restaurante Patroni, na Pituba —, além de ter participado de eventos como o festival “Oxe é Jazz”, tocando piano na banda da guitarrista Ágata Macêdo ao lado do ícone Armandinho Macedo.

“Quando a gente fala de viver de música, muita gente pensa logo em shows lotados, fama, sucesso instantâneo. Mas viver de música é, antes de tudo, uma construção diária. É estudar, é ensaiar, é buscar oportunidades e, principalmente, tratar a música como um trabalho sério”, pontua a artista.

Essa realidade, segundo Luma, é comum entre músicos que conseguem se sustentar plenamente na profissão, ainda que longe do glamour midiático. “Assim como existem milhares de médicos que não estão na televisão, mas são incríveis no que fazem, existem milhares de músicos vivendo da arte, de forma digna, séria e comprometida”, compara.

Presença feminina no mercado musical e a conquista da visibilidade

Se viver de música já é um desafio, para as mulheres, muitas vezes os caminhos exigem ainda mais resistência e conquista de espaço. Luma, no entanto, ressalta que as mulheres sempre estiveram presentes na música — o que mudou nos últimos anos foi a projeção e a visibilidade desses trabalhos.

“Existe essa ideia de que agora surgiram mais mulheres na música, mas isso não é verdade. As mulheres sempre fizeram música, sempre tocaram, sempre estiveram presentes. O que mudou foi a projeção. Hoje há mais visibilidade para o que sempre existiu”, destaca.

Em Salvador, Luma observa uma rede forte de instrumentistas mulheres que se comunicam, se divulgam e se apoiam, construindo seus espaços a partir do esforço coletivo.

“Vamos galgando nossos espaços com as próprias mãos, enfrentando os desafios que aparecem, cada uma a seu modo. Às vezes enfrentamos dificuldades semelhantes, às vezes não, porque existem também recortes financeiros, étnicos e raciais que interferem. Mas, no geral, o espaço da mulher na música em Salvador vem sendo conquistado por nós mesmas”, afirma.

Sem buscar heroísmos ou dramatizações, Luma prefere enxergar a atuação feminina na música de forma natural. “Para nós, mulheres que trabalham com música, é só mais um dia comum. Estar nesse espaço é algo absolutamente normal e deveria ser encarado dessa forma”, conclui.

Reconhecimento além dos números

Embora não viva em função dos números das redes sociais ou de rankings de streams, Luma acredita que o reconhecimento mais valioso vem do público que a acompanha e da possibilidade de fazer da música um meio de vida. “A arte não precisa ser medida apenas pelo alcance. O mais importante é tocar as pessoas, criar conexões reais e, acima de tudo, ter orgulho do que se constrói dia após dia”, afirma.

Nascida em Itabuna (BA) e radicada em Salvador, Luma começou na música ainda criança. Formada pela UFBA, sua trajetória inclui participação em grupos como o Madrigal da UFBA, “Miguel e os Futuríveis” e no projeto “Pagode Por Elas”, além de passagens internacionais, como apresentações em Saint Louis, nos Estados Unidos.

Atualmente, além de manter o projeto “Luma Convida”, ela trabalha na produção de seu primeiro trabalho autoral. “É um novo passo, mas sempre com a mesma essência: viver de música com verdade, seriedade e amor”, celebra a cantora.