Nessa última semana passei por uma situação chata, fui obrigado a extrair um dente. Num país que já foi taxado de “país dos desdentados”, não deixa de ser comum. Mas diferente dos dados do Ministério da Saúde, minha situação não foi causada por cárie como em 93% dos casos, foi culpa do famigerado dente de siso, ou como chamamos aqui no nordeste, “dente queiro”, que nada mais nada menos são os últimos quatro dentes que o ser humano desenvolve, já no início da fase adulta. Enquanto a população brasileira sofre com a saúde pública e por falta de tratamento fica com dentes faltando, eu tenho dentes sobrando e tenho que pagar para me livrar deles!
Existem algumas situações que envolvem o dente de siso:
* Ele não nasce, aí as pessoas vivem felizes;
* Eles nascem com espaço suficiente para o tal, dói um pouco, mas depois que nasce você pode ser feliz de novo;
* Ou tentam nascer quando não há espaço suficiente, aí é o inferno na terra, o desgraçado empurra toda a sua arcada dentária, para criar um espaço para nascer, e quando consegue nasce torto, ou parcialmente.
Para eu estar aqui relatando essa experiência traumática, óbvio que minha situação foi a terceira, não sei por que tive que herdar essa maldição, ou se simplesmente estou um elo abaixo da escala da evolução humana, mas depois do sofrimento de sentir ele rasgando minha gengiva, finalmente chegou o dia de exorcizar esse demônio de minha vida.
Chego ao consultório, ar condicionado (vale mais que ouro na Bahia), chazinho a disposição, sofá confortável, digo à recepcionista: “Sou das 17 horas, vim extrair um dente siso”, ela deu um sorriso de canto de boca como se dissesse “Sabe de nada, inocente!”, verificou e confirmou minha consulta, pedindo para que eu aguardasse um pouco.
Depois de aturar meia hora de “Malhação” na TV da recepção e quase furar meus olhos e tímpanos, chegou minha vez. É aí que você se dá conta que todo dentista é sádico, a mesa do cara parecia do Tribunal da Santa Inquisição, tinha todos os tipos e formatos de alicates (até de eletricista se vacilar), alavancas, fórceps, e claro, a famigerada broca, nesse momento a única coisa que vem na mente é “que p… vim fazer aqui?!”. No meio do arrependimento surge uma assistente com um algodãozinho com xilocaína, o pensamento já mudou para “só isso não vai dar, vai doer pra c…!”, e o arrependimento só aumentava, assim como minhas orações para Nossa Senhora da Anestesia (Nossa Senhora das Dores não me pareceu conveniente nessa situação).
Até que ele surgiu, o dentista, mascarado como todo carrasco, pergunta: “Tudo bom, Lucas?”, como se eu pudesse responder com a boca aberta e entubada, pega uma seringa e dá quatro injeções na minha gengiva, segundos depois o lado direito da minha cara já estava dormente, pronto o stress me causou um derrame facial, minha preocupação era essa até ele pegar algo parecido com um pé-de-cabra, empurrou meu dente de um lado pra outro, em seguida puxar meu dente com um alicate que eu nem vi de onde veio, num movimento rápido, adeus dente!
Engraçado que no espelho o dente é tão pequeno, mas num situação dessas, parece que ele é do tamanho do meu pulso, realmente não dói (Nossa Senhora da Anestesia é forte), mas você sente tudo. O importante é que o ele saiu, apesar do “pós operatório” e dos dias me alimentando exclusivamente de sopa ou suco, foi um alívio. Pelo menos até eu lembrar que eu ainda tenho mais dois pra tirar…