Futebol e ditadura andaram muito próximos na América Latina. São muitos os casos em que governos se utilizaram do esporte para se promover. Mas a utilização do esporte para fins políticos não parou na década de 1970 e pode ser percebido também na democracia. Sob o tema Futebol e Ditaduras na América Latina, o assunto foi discutido na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura.

BaVi pelo campeonato baiano 2014

BaVi pelo Campeonato Baiano 2014, na Itaipava Arena Fonte Nova – Foto: Divulgação – Ulisses Dumas/Ag: BAPRESS

“A gente constata que futebol e ditadura andaram muito próximos. As ditaduras se valeram muito do futebol, em vários momentos, como propaganda. Mas isso ocorre no regime democrático. Nas ditaduras, é claro, é um processo mais objetivo e danoso, mas também acontece na democracia”, afirma o historiador e jornalista Lúcio de Castro. A Copa do Mundo, que começa em dois meses, é um exemplo disso. “Em alguns campos, a gente está vivendo um estado muito preocupante, próximo ao estado de exceção. Quando a gente fala em remoções de favelas, a gente vive casos muito preocupantes”,  completa.

Castro comentou também as manifestações que ocorreram em meados de 2013, durante a Copa das Confederações. Ele criticou a forma como o governo está lidando com o assunto. “Me preocupo muito: a partir dos protestos, se discutiu uma série de leis que inclusive lembram o estado de exceção, nas quais você pode ser preso só por estar se manifestando. Espero que a gente possa viver nas ruas o que é um pais democratico”.

Também presente no debate, o escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano não quis comentar especificamente as manifestações ou a Copa, mas defendeu o futebol como esporte. “O futebol não tem a culpa dos pecados cometidos em seu nome”, analisa. Galeano é autor do livro Futebol ao Sol e à Sombra, no qual mostra que o futebol tornou-se um negócio lucrativo. Galeano descreve que, para além das paixões, mitos, heróis, glórias e tragédias, o jogo tem um lado sombrio, que envolve poderosos interesses políticos e financeiros.

Para o uruguaio Eduardo Galeano, o futebol não tem culpa dos pecados cometidos em seu nome - Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Para o uruguaio Eduardo Galeano, o futebol não tem culpa dos pecados cometidos em seu nome – Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Por outro lado, os debatedores ressaltaram que não apenas as ditaduras utilizaram os jogos, mas também a população. Galeano citou o Uruguai como exemplo. Foi em um estádio, a primeira manifestação contra o golpe no seu país. “O povo estava mudo pela agressão. Mas foi num estádio lotado, não tinha nenhum lugarzinho, nem microscópico, que começaram a gritar pela primeira vez: Se va a acabar, se va a acabar la dictadura militar”, conta Galeano.

Sobre o futebol atual, o jornalista Mário Magalhães, autor da biografia Marighella – O Guerrilheiro Que Incendiou o Mundo, destacou a exclusão nos jogos. “Na Copa das Confederações, não se via o Brasil, em toda a sua diversidade, nos estádios, parecia que a população era europeia, todos brancos”, disse, atribuindo o fato ao alto preço dos ingressos. “Tem toda uma geração de jovens que acompanha o futebol só pela televisão, que não vai aos estádios”.

A 2ª Bienal do Livro tem entrada franca e prossegue em Brasília até o dia 21 de abril. A programação está disponível na internet.

Com informações da Agência Brasil