Não foram raras às vezes em que assisti jogos de Bahia e Vitória sem o áudio da TV, mas sim com a companhia do rádio. Minha ação consiste em baixar o volume do televisor. É preciso ter muita paciência e pouco amor-próprio para acompanhar um Fluminense e Vitória, ou um Flamengo e Bahia, por exemplo, através da Globo ou do Sportv.
Explico. A forma de tratamento com que boa parte da mídia do Sudeste costuma dar aos clubes baianos (imagino que do Nordeste como um todo) é bem diferente daquela destinada aos times do eixo Rio-São Paulo, o nosso tão já conhecido “Sul Maravilha”.
Agora, em poucos dias, foram registradas duas manifestações preconceituosas de jornalistas esportivos do Sudeste sobre Bahia e Vitória. Na primeira delas, o Paulo Vinícius Coelho, do canal ESPN (um dos comentaristas mais respeitados do Brasil), afirmou que o técnico Ney Franco é maior do que o Vitória, um desrespeito evidente a um clube grandioso e centenário. Ele se referia a opção do treinador de trocar o rubro-negro baiano pelo carioca.
Concordo que Ney Franco tem potencial para trabalhar nas chamadas “potências do país”, mas daí a minimizar a grandeza de um clube como o Vitória, que tem uma torcida apaixonada e revelou uma série de jogadores para o futebol brasileiro e mundial, trata-se, sem dúvida, de uma infelicidade muito grande. É pura arrogância – e a arrogância é prima-irmã do preconceito.
Nesta quarta-feira, o Bruno Souza, do Sportv, debochou quando um torcedor do Bahia informou, via Twitter, que o tricolor baiano estaria contratando o meia Romagnoli, ídolo do argentino San Lorenzo. Mal informado, ele desconhece que a negociação encontra-se adiantada, mas, por mais que talvez não venha a se concretizar, com que direito ele gargalha, ironicamente, de tal possibilidade? Estamos falando de um clube duas vezes campeão nacional e que está se reestruturando. Ou será que somente Flamengo e Corinthians, historicamente beneficiados pelo monopólio das cotas de TV (algumas delas contratantes desses jornalistas) podem trazer grandes reforços?
Nada que me surpreenda muito. Viciados (assim como seus diretores) em um tipo de jornalismo que de plural não tem quase nada, costumam julgar que o Brasil se resume a São Paulo e Rio de Janeiro, desconsiderando as demais regiões do país e seus torcedores (boa parte de suas audiências), que merecem, no mínimo, mais respeito.
Para compreender melhor o teor dos comentários de alguns jornalistas e às emissoras que costumam virar as costas para o Nordeste, inflando suas grades de programação com conteúdo de Rio e São Paulo, onde a tão esquecida pluralidade passa bem longe das reuniões de pauta e das resenhas sobre futebol ( que está cada vez mais desinteressante), sugiro a leitura de Stokely Carmichael e Charles Hamilton, a quem se deve o conceito de racismo institucional.
Menos complexo, este trecho do Programa de Combate ao Racismo Institucional no Nordeste do Brasil – DFID/PNUD, define o conceito da seguinte forma:
O racismo institucional pode ser visto ou detectado em processos, atitudes ou comportamentos que denotam discriminação resultante de preconceito inconsciente, ignorância, falta de atenção ou de estereótipos racistas que colocam minorias étnicas em desvantagem.
Qualquer semelhança é mera coincidência?