Bahia, novembro de 2012, mês da Consciência Negra… O que seria um momento de exaltação da luta do povo negro, por mais igualdade no Brasil, em um “grotão social”, na comunidade quilombola Rio dos Macacos, situado na Região Metropolitana de Salvador, a coisa é bem diferente. Na semana do Dia Nacional da Consciência Negra e um dia após o enfático discurso da presidenta Dilma Rousseff enaltecendo o povo quilombola, durante a cerimônia de lançamento de um pacote de ações do Programa Brasil Quilombola, estes quilombolas, manhã desta quinta-feira, 22 de novembro, receberam a “visita” nada cortês de uma tropa da Marinha, acompanhada de agentes da Polícia Federal.

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O pós-lançamento de ações do Programa Brasil Quilombola, ocorrido em Brasília na quarta-feira (21), foi fatídico, na Bahia, para os moradores da comunidade que vive um conflito cinquentenário com a força armada que comanda a Base Naval de Aratu.

“Eles invadiram os quintais de nossas casas, nesta manhã, tirando foto e filmando tudo. Disseram que estamos proibidos até de limpar o fundo do quintal, fazer horta e arrumar os barracos”, expressou, com pedido de ajuda, a moradora Rosemeire dos Santos.

“Só não filmaram uma senhora quilombola passando mal”! Rosemeire, uma das vozes de resistência do Rio dosMacacos à ação judicial movida pela Marinha pela reintegração de posse das terras onde moram mais de 40 famílias, alertou que os moradores estão com receio de sair do local, para trabalhar, pois os militares teriam reforçado a guarnição nos arredores do quilombo.

Dilma, ontem, alertou em seu discurso de lançamento de ações do Programa Brasil Quilombola: “Afirmar, portanto, Zumbi dos Palmares, significa também um resgate da história das populações negras contra a sua opressão, submissão e escravidão”.

Rosemeire, hoje, gritou: “Queremos que a presidenta Dilma venha aqui, ver com seus próprios olhos o que estão fazendo conosco. Estão ‘matando’ nossa comunidade quilombola”. O paradoxo, na semana da Consciência Negra, é ainda mais desnudado. “Demos um voto de confiança a ela, não queremos ser traídos”.

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As palavras da presidenta, contudo, foram certeiras com a realidade denunciada pelos moradores do quilomboRio dos Macacos. “Cada um de vocês, quilombolas de hoje e descendentes desses guerreiros do passado, trava hoje, as batalhas do presente pelo reconhecimento e também pela igualdade de oportunidades”.

“Agora só falta aumentar de 23 para 400 hectares a área quilombola de Rio dos Macacos”, alertou de imediato uma atenta internauta, na rede social Facebook, Juliana Cézar Nunes, sobre as palavras da presidenta.

A quilombola Rosemeire dos Santos falou ainda de um documento apresentado pelos Militares e pelos federais, assinado pelo juiz Evandro Reimão dos Reis, no qual proibiria que eles “limpem” o fundo das casas, “façam reparos” nos “barracos” danificados pela chuva ou “cultivem hortas” comunitárias…

“Ameaçaram levar até os materiais [de construção] que conseguimos com muito esforço”, queixou-se a moradora. “Se as casas caírem em cima da gente, de nossas crianças, do jeito que elas estão, e a gente morrer, eles vão dizer que não têm nada a ver com isso”.

Parece ainda não ter chegado ao Rio dos Macacos, segundo os próprios moradores, aquilo que foi informado pela presidenta Dilma: “Somente em 2004, no governo do presidente Lula, foi criada uma política específica para os quilombolas, assumindo como tarefa de Estado assegurar direitos à terra, ao trabalho, à educação, à saúde, a todos esses cidadãos, por tantas décadas excluídos”.