Série revivendo boas histórias da estrada! Nessas férias de janeiro, o Bahia na Lupa rememora reportagens antigas de alguns roteiros de viagem por nosso imenso território baiano. Gente, lugares, comidas, costumes…
Praia, sol, coqueiros… e um castelo! Não é uma miragem, este é o encantador cenário da Praia do Forte, no Litoral Norte da Bahia, visto do Castelo Garcia D’Ávila, única construção medieval ainda de pé nas Américas. Em ruínas e tombado desde 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o castelo, que tem características renascentista, rococo e gótica, faz quem o visita reviver uma época de ouro da criação da cidade do Salvador e da colonização brasileira.
“Erimida em 1551, no alto de Tatuapara…”, nome em Tupi Guarany da, hoje, badalada Praia do Forte, há 53 quilômetros do Aeroporto Internacional da capital baiana, o castelo na verdade era a Casa da Torre de um dos principais desbravadores das terras tupiniquis, o barão Garcia de Souza D’Ávila – um dos maiores latifundiários das Américas. Ele chegou a Salvador para controlar a capitania hereditária Seis Maria, mas conquistou 800 mil quilômetros quadrados de terras brasileiras. Seus domínios se estendiam da Bahia ao Maranhão.
O lugar, preferência dos turistas que visitam a Bahia, guarda em cada canto uma fonte inesgotável de resgate histórico e cultural. O local também é cheio de curiosidades. “Você sabia que o bairro Portão, em Lauro de Freitas, tem esse nome, pois ali era o portão da casa de Garcia D’Ávila? Ali também era a divisa da Bahia com Sergipe, na época da construção do castelo”, revela o irrequieto sabedor popular das epopéicas histórias dos limites da Casa da Torre, o guia turístico Gutemberg Souza Santos.
“Nativo” do lugar, como são chamados os moradores da vila a qual faz parte a Praia do Forte, Gutemberg trabalha há 13 anos no Parque Histórico e Cultural, ao qual pertence o castelo, mas foi nos últimos seis anos que iniciou a atividade de guia no parque. Sua sabedoria lhe rendeu entrevistas em revistas de renome no cenário nacional e lhe garante o sustento da família. Casado, o guia ganha em torno de R$ 2.500 por mês, somando o ofício de guia com o dinheiro que consegue vendendo o artesanato que produz – esculturas feitas com a reciclagem de cocos. Ele diz que assim dá para viver bem com a esposa Kátia Maria.
Encantos do Castelo
“Ele, o Garcia D’Ávila, trouxe o coco para a Bahia, por isso essa região é conhecida como Costa dos Coqueiros. A segunda linhagem de famílias brasileiras veio dele. Ao todo, 10 gerações da família D’Ávila morou no castelo”, conta o guia. O castelo demorou 73 anos para ficar pronto e, por sua construção estratégica, no alto, de frente para o mar, servia também para observar as embarcações que cruzavam por ali.
Famosos como Stênio Garcia, Alexandro Borges e comitivas com políticos internacionais do Uruguai, de Portugal, China, Suiça e Angola conheceram o castelo guiados por Gutemberg. Programas de televisão também já foram gravados em meios às ruínas preservadas do castelo Garcia D’Ávila. “Me sinto realizado com tudo isso. Conheço o castelo desde minha infância, nasci aqui”, declara o guia, ao contar também que sua experiência neste ofício surgiu em meio à paixão pela riqueza histórica do lugar. “Muitas vezes revivo o passado, quando falo dele”, diferencia.
A beleza do lugar é o que mais encanta a turista paulista Susete Sinapi, pela terceira vez visitando a Bahia. Para ela, a riqueza natural e histórica são os principais atrativos. Já Carlos Marques, turista do Rio de Janeiro, acompanhado da esposa Renata, afirma que o contato com a história e cultura de raiz do Brasil o inspira: “Toda viagem é uma experiência nova, temos a oportunidade de manter contato com coisas diferentes”.
“Meu sonho era conhecer este lugar, ele é lindo. É uma experiência maravilhosa e assustadora. Ao mesmo tempo em que vemos preciosidades como relíquias antigas, nos deparamos também com o sofrimento dos negros escravos e índios que passaram por maus bocados para garantir o luxo de seus patrões”, declara comovida a visitante baiana Noemia dos Santos Santana.