“Fome. Fome de inovar e de se expressar”. Assim respondeu o jovem ilustrador digital Hanson Akati ao ser perguntado o que une a nova geração de artistas africanos. “Estamos em busca de uma identidade, que não descobrimos direito. Estamos lutando para encontrar nossa voz e que para as pessoas a escutem”. Com 25 anos, nascido em Accra, capital de Gana, o artista é uma forte representação da identidade da pulsante e cultural cidade, que agrega jovens inovadores, que juntos trazem um novo significado ao conceito de África contemporânea.

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Com ilustrações descoladas, cômicas e às vezes ácidas, Akati é hoje um dos ilustradores mais celebrados da cosmopolita capital. Seus traços, que flutuam entre o estilo HQ (História em Quadrinhos), caricaturas e formas exclusivas do mundo digital, representam o ânimo de Gana e a aptidão crescente no país para os novos meios artísticos.

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Hanson faz parte da descolada geração da autoaprendizagem, que conduzem a Internet como escola. O jovem conta que a paixão pelos desenhos começou na infância, copiava e reproduzia tudo que via pela frente. Conforme crescia, o interesse pelas formas expressas no papel só aumentava. Aos 18 anos, fuçando no computador do irmão, aprendeu a brincar no Photoshop e passou a tentar replicar os desenhos para o meio digital. Um amigo mais velho, fascinado pela curiosidade de Hanson decidiu lhe ensinar os truques da ferramenta e a vastidão de opções do programa. Pronto. Ali, a flama se tornou maior do que uma atividade de lazer poderia satisfazer. Passou então por um período de autoaprendizagem, sugando todos os tutoriais que conseguia encontrar na rede. Naturalmente, sua aptidão se expandiu e a qualidade de sua arte começou a chamar atenção no meio cultural.

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Segundo ele, antes dos softwares digitais, sua maior ferramenta é a mente e a ânsia pelo trabalho criativo. Pelos críticos, o artista é definido como estilo caricato com essências de realismo, no entanto Hanson acredita que ainda está em fase de experimentação e que esta será uma fase contínua e ininterrupta em sua vida, uma vez que considera que a arte é um ensaio constante. O jovem acredita também na multiplicidade de estilos e gosta de transformar-se a cada desenho, encarando cada design de uma forma e perspectiva diferente. Sua versatilidade é o que dá o brilho ao trabalho, chamando atenção de profissionais seja do meio clássico ou pós-contemporâneo.

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Destaque da arte digitalizada, Hanson Akati defende que o estilo é apenas uma consequência do mundo em que vive, começando pela influência básica da televisão para o momento atual em que qualquer cidadão vive rodeado de computadores. “Os softwares estão circulando o ambiente, impulsionando artistas a criarem novos visuais e facilitando experimentações”, explica. No entanto, em uma passagem rápida do olhar pelo trabalho de Hanson, fica clara sua modéstia. Afinal, combinações de cores, temáticas criativas, perfeição de traços e estilo único não são competências que se aprendem em tutoriais no Youtube. E tudo isso, ele tem de sobra. Akati é um forte símbolo da contemporaneidade africana e uma promessa da arte digital do continente.

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Se por um lado, suas técnicas vieram do meio online, seu background criativo vem do meio onde cresceu. A pulsante cultura urbana de Accra, capital de Gana, sempre o inspirou. Para ele, a orientação estética não vem apenas da arte visual, mas também da cultura musical presente na cidade. O hip-hop ganense e a maneira que este aborda a arte é uma fonte de alento para o jovem ilustrador. “Na verdade, todo o modo de vida africano me influência. Nossa maneira de pensar e de agir pode não parecer tão diferente do resto do mundo, mas acho que na África, o fazemos com mais estilo, tudo é mais vibrante, colorido e fluido. Você pode ver nas nossas ruas: não existem linhas rígidas, tudo é orgânico, até o jeito que nossas árvores crescem, são muito mais curvas que linhas retas – e tudo isso é o que tento capturar nos meus desenhos”, explica Akati.

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Outra fonte de inspiração são as mulheres, que para o jovem artista, possuem formas perfeitas, alinhadas com a natureza com nenhuma outra. “Para mim é fácil desenhar mulheres, às vezes sem perceber me pego desenhando a forma feminina. Sempre achei uma obra de arte o formato do corpo da mulher. Seus contornos são expressivos e se embaralham com o meio ambiente”. Sua paixão motivou a criação de um de seus mais recentes projetos: uma série divulgada em sua página de Instagram, em que se propôs desenhar uma mulher por dia durante duas semanas. Entre ilustrações discretas e sugestivas, com toques caricatos e explícitos, o trabalho, publicado em março, foi um dos mais aclamados e comentados no meio cultural de Gana.

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No entanto, para o artista, explicar sua arte não é fácil. Ele mesmo se enxerga como um observador, tentando decifrar suas próprias mensagens. “Eu não sei dizer exatamente sobre o que estou representando, sinto que eu faço parte da multidão, que está olhando para arte, tentando me entender. Às vezes o que faço é algo que veio através das minhas lentes, mas que se traduz em uma mensagem que não veio de mim. Nesse momento, como todos, viro um espectador, tentando entender o que sou”, reflete Akati, adicionando que a mesma distância que se coloca para tentar entender sua obra também faz parte de seu processo criativo.

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Depois de uma ideia artística, de sua reprodução e da adição dos elementos e gráficos em cada quadro, Hanson explica que é necessário dar um “zoom out” do trabalho. A técnica é uma maneira de ver de fora como os elementos escolhidos interagem um com outro e quão orgânica está a coesão da peça gráfica. Para cada criação, Akati se prende a um processo criativo de detalhes. Minimalista, ele acredita que todos os itens presentes em uma obra devem possuir uma função, teórica ou gráfica, e conclui: “Eu gosto do design porque ele permite a criação de uma arte funcional, de uma arte que nos ajuda a viver nossas vidas, que está por todas as partes e que não podemos escapar de sua expressão”.

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Por Projeto Afreaka