Na maioria dos guias turísticos sobre Burkina Faso, na hora de falar de comida, as dicas de restaurantes não fazem jus à culinária nacional. De modo geral, as indicações são de ótimos restaurantes, porém com menus generalizados de opções internacionais, e preços que variam entre o caro e o luxo, em que a comida local é deixada de lado. Para completar, uma grossa parte dos restaurantes indicados é de propriedade estrangeira, o que significa que o benefício não vai diretamente para o bolso burkinabé. Viajar milhares de quilômetros para comer a mesma comida que você come no seu país não parece fazer muito sentido. E não deveria. A culinária local é rica, diversificada e cheia de surpresas para o paladar. O segredo é se jogar na comida de rua.

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Espalhadas pelas cidades, mulheres com suas barracas, estandes móveis ou carrinhos de comida vendem cada uma sua especialidade, por preços dez vezes menores que os restaurantes internacionais e, é claro, com sabor muito mais africano. Café da manhã, almoço e janta: não faltam opções na gastronomia burkinabé. No começo, pode parecer difícil, afinal é preciso descobrir quem vende o quê. No entanto, depois de tomado o primeiro risco, você se pergunta o porquê de não ter-se aventurado antes.

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Uma vez descobertos os sabores das ruas de Burkina Faso, é difícil querer comer em qualquer outro lugar. O esquema é muito mais simples do que parece quando ainda desconhecido, mas a verdade é que as barracas e os estandes são responsáveis de presentear os visitantes com uma experiência única, em que a opção de saborear pratos inesquecíveis está inclusa.

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O dia já pode começar bem com a primeira refeição, o café da manhã. As opções variam entre pratos mais carregados ou sanduíches de vários tipos. Perambulando pelas ruas ou em seus pontos fixos, no período matutino o melhor menu é oferecido pelas mulheres com seus carrinhos móveis, que lembram os carros de milho ou sorvete servidos nas praias brasileiras ou então os de pipoca nos centros urbanos. Com pão fresco e saboroso, as escolhas de recheio são várias: abacate com tomate temperado, peixe pilado (moído) ou carne de panela desfiada com cebola.

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O toque final para os que gostam de algo mais quente é o cancancan, uma pimenta moderada, misturada com farofa de amendoim. Para quem prefere algo doce, existem carrinhos especializados em begne, uma fritura semelhante ao bolinho de chuva. Os pratos mais pesados matutinos são os mesmos que serão servidos para o almoço e são encontrados nas barracas fixas, assim como o costumeiro pão com omelete.

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O clássico do almoço é o tô, hit de sucesso tanto em Burkina Faso quanto nos países vizinhos. O tô é um purê feito de milhete ou sorgho, ambos típicos do continente africano, primos do milho. É o feijão com arroz brasileiro, o prato de todo dia e vem à mesa no formato de uma bola pastosa. Outra opção muito requisitada é o riz gras, que significa literalmente arroz gordo. Cozido na água onde foram preparados os legumes, vem naturalmente temperado. Essa espécie de risoto africano é uma das iguarias favoritas dos visitantes e pode ser servida com peixe ou carne. O arroz branco também é comum e quando escolhido vem, na maioria das vezes, acompanhado pela sauce-tomate, um molho de tomate reforçado com legumes.

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Esses três pratos são básicos e nada mais fácil do que encontra-los pelos restos, pequenas construções equipadas de algumas mesas e cadeiras de plástico, presentes em cada esquina do país. Não tem erro, é difícil achar uma mama, apelido carinho das cozinheiras, que não os prepare deliciosamente.

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Para ir mais a fundo na gastronomia do país, é preciso perguntar de cá e de lá, pedindo indicações. As especialidades exclusivas burkinabés têm também suas chefs especiais. Para cada prato, um lugar particular. Enquanto uma cozinheira prepara o melhor atiekê do bairro, a da rua de traz é a especialista do babenda. A promessa é de que a cada passeio, um novo sabor é descoberto. Entres os tesouros locais, destaca-se o atiekê, farinha de mandioca ralada e cozida que substitui o arroz nos pratos. Pode ser servida com peixe ou frango, mas de modo geral inhame frito e ensopado de fígado são os parceiros mais requisitados. A babenda é outra preciosidade gastronômica: um molho preparado com folhas verdes como espinafre, kale e repolho misturado com grãos e alfarroba. Peixe seco na mistura é opcional.

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O sistema de barracas é rotativo. Para a janta, novas vendas surgem colorindo as ruas com opções fresquinhas e mais leves. Carrinhos de salada, espetinhos, mandioca frita etc. ficam espalhados pelos bairros para quem quer só beliscar. Para quem procura mais sustância é hora de comer a céu aberto. De noite, mulheres arrumam suas vendas do lado de fora, exibindo as apetitosas opções de suas panelas e ajeitando mesas e cadeiras para que os clientes aproveitem a brisa noturna. Com pequenos fogões a gás ao lado, a comida é preparada na hora e chega fresca aos pratos. É hora de escolher: couscous ao leite ou ao molho de legumes, frango ao gengibre com plátano frito, benga (feijão com arroz), soumbala (mistura de sementes da árvore nere), fonio (mistura de tubérculos) ou então uma apetitosa salada de abacate. São necessárias semanas e semanas para dar tempo de experimentar tudo que a cozinha burkinabè tem para oferecer.

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Para refrescar e acompanhar toda a comilança, suco de gengibre, tamarindo ou bissap, fusão feita com flor de hibisco. A cerveja nacional é a Brakina, servida gelada na maioria dos lugares. O clássico, porém, é a dolo, cerveja tradicional, feita de milho vermelho. Apesar de ser mais comum nos vilarejos, não faltam opções de venda nos centros urbanos. Mas o melhor ainda não veio. O Oscar da culinária de Burkina Faso vai para o Deguè, a sobremesa nacional. Um viciante iogurte recheado de grãos de milhete, servido gelado ou à temperatura natural. Pode ser encontrado nos mercados e feiras de rua, mas existem barracas especializadas na sua produção e são normalmente as mais requisitadas.

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As ruas do país são um convite ao turista. Burkina Faso, um dos países menos visitados do continente, é uma joia desconhecida. Paisagem, cultura e hospitalidade são os recheios da receita burkinabè que prometem para o futuro. E para completar, a gastronomia não apenas conquista, mas faz pensar duas vezes em um possível e breve retorno.

Por Afreaka