As recentes crises humanitárias têm trazido consigo outro agravante, além do horror que carregam. Trata-se de um grande desafio, ainda que pouco se comente: os ataques à assistência à saúde em zonas de conflito. As agressões a instalações médicas e sanitárias, incluindo os profissionais dessas organizações, vêm sendo reportadas com maior frequência nos últimos anos.
Os ataques de que foram alvos funcionários de organizações humanitárias sofreram um novo recorde em 2013: foram 155 mortos, de acordo com dados da Humanitarian Outcomes. Além dos mortos, 177 foram feridos gravemente e 134, raptados.
Na Síria, atual alvo de bombardeios norte-americanos contra o grupo extremista autointitulado Estado Islâmico, a ONU denunciou o aumento de ataques contra hospitais na região, e alertou: os rebeldes têm impedido o acesso da ajuda humanitária àqueles que precisam. Em relatório enviado ao Conselho de Segurança, foram indicados doze ataques a postos médicos em junho, número mais elevado desde 2012. Em três anos de conflitos, 526 trabalhadores da saúde foram mortos. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a Organização Mundial da Saúde (OMS) também pediram ações mais efetivas por parte dos Estados para proteger pessoas que prestam ou recebem assistência à saúde em situações de conflito.
Na guerra de Israel na Faixa de Gaza, em agosto, o exército israelense foi acusado de disparar um míssil contra um abrigo da ONU, matando ao menos dez pessoas e deixando trinta feridos. Essa teria sido a terceira vez que Israel atingiu uma escola utilizada pela ONU como abrigo. Em ataque semelhante, num abrigo da Nações Unidas no campo de refugiados de Jabaliya, outras 16 pessoas morreram. Apesar de criticado pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel, e pela comunidade internacional, nenhuma ação efetiva foi tomada. A ONU procura dar suporte a cerca de 250 mil palestinos através das escolas locais, como as utilizadas como alvos militares.
Também em Gaza, no final de Julho carros com equipes de resgate da Cruz Vermelha que tentavam entrar no distrito de Shejaiya foram atacados e apedrejados por civis, que consideraram que a organização não estava protegendo adequadamente a região.
Os relatos são numerosos e refletem uma situação alarmante contra as organizações humanitárias, que veem a perda progressiva de sua imunidade e a restrição de seu acesso às zonas de crise. Poucas são as pessoas dispostas a oferecer ajuda diante de tanto perigo e adversidade, em locais muitas vezes remotos. Esse tipo de ajuda, que visa limitar o uso da violência por parte dos combatentes, mas principalmente, socorrer as pessoas vitimadas pelos conflitos, precisa ser protegido, encorajado, e nunca ser considerado como alvo militar.