Imprensa corporativa conseguiu no primeiro turno impedir o avanço das forças progressistas no Legislativo, mas no segundo turno perdeu. Há ainda uma tentativa de valorizar a oposição acima da real correlação de forças…
A grande derrotada nas eleições presidenciais foi a mídia tradicional, seguida pelos bancos privados. A imprensa corporativa, patrocinada por estes bancos, passou anos doutrinando o brasileiro a se afastar da luta política, a criminalizar movimentos sociais, a ver a política apenas como sinônimo de corrupção e não como instrumento de transformação da realidade, a que todo cidadão deve se engajar de alguma forma, nem que seja apenas votando com consciência política.
O truque é simples: o povo é induzido a odiar a política e desiste da luta pelo poder popular, então a classe dominante ocupa o poder com seus candidatos manietados.
Esse truque deu parcialmente certo no primeiro turno. No Congresso Nacional eleito, parlamentares que se elegem com votos de opinião perderam espaço para candidatos do poder econômico. Mesmo assim, as mudanças nas correlações de forças foram relativamente pequenas. O Congresso já era majoritariamente conservador e continuou sendo. Evitou um avanço progressista no poder Legislativo.
Mas fracassou no segundo turno, com a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, que tinha a oposição da mídia corporativa e de todo o mercado financeiro.
Todo o poder de fogo da mídia corporativa para eleger seu candidato tucano foi usado, sem escrúpulos. O Manchetômetro (estudo desenvolvido por professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) demonstrou que o noticiário dos jornais e telejornais de grande circulação e audiência fizeram verdadeira campanha negativa contra a candidata petista, e campanha positiva para os candidatos de oposição.
Um verdadeiro golpe foi a tentativa da revista Veja de produzir uma reviravolta às vésperas das eleições produzindo uma matéria sensacionalista, panfletária e sem compromisso com a verdade, cuja natureza de campanha eleitoral negativa e paralela foi reconhecida pelo Ministério Público Eleitoral e pela Justiça Eleitoral. O caso ainda precisa ser investigado pois, se houve premeditação de criminosos confessos, em ação conjunta com interesses escusos para solapar a democracia e soberania do voto popular, os crimes são bem graves.
Apuradas as urnas, o noticiário desta mesma mídia corporativa mudou no dia seguinte. Saiu o sensacionalismo golpista, entrou o lobismo conservador, até legítimo para jornais e TVs conservadores na área econômica.
O caso Petrobras passou a ser tratado com sobriedade, atendo-se mais aos fatos e menos às especulações, ilações. A economia brasileira já não está mais próxima do fim do mundo, como era dito antes das eleições. O tom do noticiário é de que precisa apenas de um novo ministro da Fazenda ao agrado do mercado para reverter expectativas. O tom de crise, seja econômica, seja política, seja institucional, ficou restrito a alguns colunistas e editorais. As manchetes agora refletem o lobismo para ocupação de ministérios, sobretudo os da área econômica e que afetam a comunicação social, por atingir os interesses dos próprios “barões da mídia”.
Nota-se também o lobismo no noticiário puxando para a agenda política conservadora, já buscando no parlamento reações à proposta de reforma política com plebiscito.
Há ainda uma tentativa de valorizar a oposição acima da real correlação de forças. A votação mais expressiva no segundo turno não é suficiente para fazer a oposição mais forte, quando a oposição encolheu em poder regional, elegendo menos governadores, e elegeu praticamente a mesma bancada que tinha, tanto no Senado como na Câmara dos Deputados. Quem cresceu em poder regional elegendo mais governadores foram partidos da base governista como PMDB, PSD, PCdoB etc.
Por mais que o PMDB tenha rachado durante o processo eleitoral, seus sete governadores vão querer manter uma boa relação com a presidenta para fazer uma boa administração. Mesmo os cinco governadores do PSDB também agirão de forma semelhante, pelo menos nos dois ou três primeiros anos do segundo mandato.
*Por Helena Sthephanowitz/Rede Brasil Atual