Dia de Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra foi comemorado em 27 de outubro. A agenda de mobilização começa no início de outubro e vai até o dia 20 de novembro, data em que se comemora a imortalidade do herói negro, Zumbi dos Palmares. Neste período, acontecem várias atividades em todo o país. Homens e mulheres, jovens e adultos, profissionais de saúde, gestoras e gestores, ativistas, pesquisadoras e pesquisadores, cidadãos e cidadãs realizam atividades para promover e defender o direito da população negra à saúde.

Neste ano vou falar um pouco sobre as mulheres negras, trazendo a Marcha das Mulheres Negras 2015 como o impulsionador na construção deste texto, pois as mulheres negras lutam pelo bem viver, contra o racismo e a violência e para que essa tríade se concretize é preciso que o exercício do direito a saúde seja garantido de forma integral, equânime e igualitária. Documento da Marcha das Mulheres Negras 2015.

Foto: Andrê Frutuôso/BnL

Foto: Andrê Frutuôso/BnL

Ao longo desse ano vimos muitas denúncias de violação de direito a saúde, principalmente no que se refere ao acesso das mulheres as serviços de saúde no momento reprodutivo, especialmente, na hora do parto e na realização de abortos que na maioria das vezes são inseguros, em alguns casos levando ao fim mais trágico que é a mortalidade materna. De acordo com os dados do Ministério da Saúde a taxa de mortalidade materna por 100.000 pessoas era, em 2011, de 68,8 para mulheres negras e de 50,6 para mulheres brancas. Mais que um nome na placa, morte materna e o racismo institucionalSolidão que assola, as mulheres em situação de abortamento.

E o genocídio da população negra que atinge as mulheres diretamente, pois a violência e a morte dos jovens negros comprometem a saúde mental das mulheres, segundo o Ministério da Saúde os homicídios aparecem como segunda causa de morte entre a população negra, enquanto na população branca, o indicador aparece em quinto lugar. E atualmente o que vimos é que as mulheres negras também estão expostas a vivenciar mais diretamente este tipo de violência e para a reflexão resgato Claudia, que foi a apresentação mais evidente do que o racismo e o sexismo são capazes de fazer com as nossas vidas, Claudia será um caso emblemático do que uma sociedade racista pode fazer conosco, mulheres negras. De Claudia Ferreira à Andreza Delgado, os corpos pretos continuam sendo arrastados.

As mulheres negras sofrem com o racismo e o sexismo, que ao longo destes últimos anos viemos denunciando as diversas violações do direito a saúde, principalmente no que se refere a saúde reprodutiva como a falta de acesso ao pré-natal, parto e puerpério, as condições insalubres na realizações de abortos inseguros e a mortalidade materna que atinge de forma diferenciada as mulheres negras quando comparada com as brancas. As mulheres negras sofrem com impacto do racismo que por meio do genocídio tenta eliminar a população jovem negra, as mulheres (companheiras, mães, irmãs, tias, avos, vizinhas) têm a sua saúde mental comprometida e agravada, quando não são o próprio alvo.

As mulheres negras experimentam discriminações de raça e gênero, que, quando agregados, comprometem a sua inserção na sociedade, como sujeitos de direitos, principalmente no que tange as condições de vida, onde as desigualdades impostas pelo racismo e sexismo que as diferenciam no acesso a bens e serviços, e em todo seu ciclo de vida.

Desde a década de 90 que o movimento de mulheres negras iniciaram uma agenda incisiva na saúde pública, acompanhando o processo da saúde reprodutiva das mulheres negras, principalmente na agenda do controle de natalidade e da esterilização em massa. Esta luta vai ser o principal passo para a construção do processo da criação da Politica de Atenção Integral a Saúde da População Negra com vista a eliminar o racismo e as desigualdades raciais na saúde construído por essas teorias, baseadas na superioridade da branquitude, por meio de esteriótipos negativos, que colocam a população negra e, sobretudo as mulheres negras, em situação de desvantagem no acesso aos serviços de saúde e em uma melhor qualidade de vida.

*Por Emanuelle Goes – Enfermeira e Blogueira, Odara Instituto da Mulher Negra, Doutoranda em Saúde Pública/ISC/UFBA.