Nos tempos de faculdade de jornalismo era comum ouvir de professores mais vanguardistas: “a internet é a contracorrente do jornalismo feito pela grande imprensa televisiva”. Em tempos de novidades incessantes e crescimento a todo vapor (ou terabyte!) das novas tecnologias, a discussão da ameaça que a internet trás à mídia tradicional é inevitável.
Em seu site de notícias e análises, Diário do Centro do Mundo, o jornalista Paulo Nogueira trás esse panorama jogando luz, inclusive, no reposicionamento da atenção que o mercado de publicidade tem começado a dar a essas novas mídias – Europa e EUA já priorizam anunciar na internet, Brasil ainda engatilha, mas pode ter um upgrade com o novo comando da Secom do governo Dilma, com a tal “base zero”.
Entenda melhor no artigo de Nogueira repercutido abaixo:
Como a internet está destruindo a supremacia da tevê na mídia
Dois anos atrás, num encontro de diretores da Abril com jovens talentos recrutados para treinamento, foi-lhes perguntado quem via o Faustão.
Ninguém.
O Fantástico?
Ninguém.
O ambiente festivo, na ocasião, só foi sacudido quando rarefeitas mãos se ergueram quando foi perguntado quem lia a Veja.
Aqueles garotos e garotas representavam, numa expressão, a Era Digital.
Um estudo global da consultoria PWC – antiga Price Waterhouse – faz você compreender a força transformadora da internet no universo da mídia.
A internet, aponta o estudo, está se aproximando velozmente da televisão para se tornar a mídia que atrai mais investimentos publicitários.
Globalmente.
“Em 2013, o total de publicidade na internet foi de 117,2 bilhões de dólares”, afirma a PWC. “Este montante deve subir para 194,5 bilhões em 2018, num crescimento de 10,7% ao ano. É um salto significativo em relação a 2009, quando a tevê atraiu 132 bilhões de dólares em publicidade e a internet apenas 58,7 bilhões.”
Na Inglaterra, um terço do bolo publicitário já pertence à internet. Nos Estados Unidos, também.
No Brasil, a marcha é mais lenta. O pedaço da internet é metade daquilo, cerca de 15%.
Mas passos significativos vão sendo dados também em solo brasileiro.
Poucas semanas atrás, por exemplo, a filial brasileira da L’Oreal informou que estava deixando de anunciar um revistas.
Foi uma decisão catastrófica para as publicações femininas. Ao longo dos anos, no caso brasileiro, a L’Oreal foi o maior anunciante de títulos como Claudia e Nova, da Abril.
No âmbito do governo federal, a Era Digital está ainda menos refletida nos gastos com publicidade.
Em 2012, a cota digital no total da publicidade governamental foi de 5,3%. A da televisão, de 62,6%.
A Secom, divisão do governo que administra a receita de publicidade, trocou de chefia, há alguns meses.
No comando agora está o jornalista Thomas Traumann, a quem, segundo foi veiculado, está atribuída a tarefa de fazer refletir a exuberância digital na publicidade do governo.
O chamado orçamento de base zero pode contribuir neste desafio.
Nele, como fazem corporações bem geridas, cada despesa em toda área é determinada não a partir do que se gastou no ano anterior – mas da base zero.
É uma forma de ganhar eficiência e evitar aumentos inerciais.
A “base zero” poderia ter levado a Secom a questionar, em algum momento nestes últimos anos, se havia razão para aumentar os gastos com publicidade federal de 964 milhões de reais, em 2003, para 1,8 bilhão, em 2012.
A “base zero” na Secom pode ser extraordinariamente útil neste segundo governo Dilma, assim como um olhar mais profundo para a revolução digital que varre a mídia.