As manifestações de rua realizadas no último fim de semana , na sexta-feira (13) e no domingo (15), abrem uma nova etapa e trazem o conflito político e social a patamar mais elevado…
O condomínio oposicionista – formado por partidos neoliberais e conservadores liderados pelo PSDB e a mídia golpista – apoiado em grupos de agitação organizados nas redes sociais – encontrou um modus operandi, para intensificar a contestação ao governo da presidenta Dilma e incrementar planos desestabilizadores. Conjugam agora ação parlamentar, governamental (nos poderes locais), o denuncismo através dos meios de comunicação e as manifestações de rua.
Em junho de 2013, foi feito o primeiro ensaio, com a instrumentalização dos protestos por reivindicações sociais difusas. Agora, sob o pretexto de “combater a corrupção”, fomentaram mobilizações em que foram levantadas bandeiras francamente reacionárias, pregaram o golpe, o retorno à ditadura militar e a intervenção estrangeira no país. Desenterraram das catacumbas o discurso anticomunista, agitaram à exaustão o ódio ao principal partido no governo, o Partido dos Trabalhadores, com o que se pretende estigmatizar toda a esquerda, ofenderam a honra de uma estadista de conduta ilibada e querida pelo povo, reeleita há menos de cinco meses.
É necessário assinalar entre parênteses a contradição em termos entre o combate à corrupção e o pedido de retorno ao regime militar, bem assim o antagonismo entre este suposto combate e o governo tucano do ex-presidente FHC, porquanto se houve dois períodos em que a corrupção mais grassou na história republicana brasileira, foram exatamente de 1964 a 1985, quando vigorou a ditadura dos generais, e de 1995 a 2002, durante os dois mandatos do ex-professor da Sorbonne.
A marcha golpista deste domingo só foi possível pela desfaçatez com que a mídia golpista exerce o monopólio dos meios de comunicação. A convocação sistemática das manifestações, a criação de um ambiente propício ao golpe desmascaram estes veículos como instrumentos dos mais escusos interesses antinacionais e antidemocráticos. Prepararam a marcha golpista deste domingo como se fora um ato cívico, pacífico, familiar e patriótico, convergindo para uma palavra de ordem central: “Fora, Dilma! Fora, PT!
A palavra de ordem “Fora, Dilma!” é a expressão do revanchismo das forças derrotadas nas eleições presidenciais de 2014. Algo desprovido de sentido, uma vez que o segundo mandato mal começou.
Não fosse a cortina de desinformação e intoxicação da opinião pública, pelas quais é responsável a usina de mentiras da mídia golpista, a população brasileira estaria melhor conscientizada de que Dilma Rousseff tem planos de governo consoantes os compromissos que assumiu durante a campanha eleitoral, metas factíveis a atingir, organiza sua governança, elabora programas administrativos, dispõe-se ao diálogo com a sua ampla base de sustentação política-parlamentar e os setores organizados da sociedade, e está combatendo firmemente a corrupção em harmonia republicana com os órgãos investigativos e o Poder Judiciário.
A palavra de ordem não faz sentido, a não ser como expressão de uma luta política que assume caráter francamente golpista por parte do condomínio oposicionista. Um desvario, uma aventura, um tiro na água, que não leva em conta a correlação real de forças, a capacidade política e administrativa do governo, a base política e popular, o valor que tem para a esmagadora maioria do povo brasileiro na imensidão do território nacional que tem apego aos programas sociais do governo e, logicamente, apreço à mandatária.
Do ponto de vista jurídico, o pedido de impeachment é de um absurdo ainda maior, denota a ignorância de quem o faz e promove. A menos que rasguem a Constituição, o que só seria possível por um golpe de força, Dilma Rousseff não é vulnerável ao impeachment porque não cometeu nem cometerá crime de responsabilidade. Politicamente, seu governo tem todas as condições para construir a aliança necessária para rechaçar nas casas legislativas qualquer iniciativa nessa direção.
As primeiras reações da mídia e das lideranças políticas da aliança PSDB-DEM-PPS após as manifestações do último domingo mostram que o conflito político aberto entre dois campos nitidamente opostos veio para ficar e tende a intensificar-se. Pretende-se que uma vez “nas cordas”, a presidenta não teria outro caminho para sobreviver como mandatária senão “ouvir as ruas” (do dia 15), o que significaria governar para os adversários da democracia, da soberania nacional e do progresso social.
Nada disso deveria surpreender. A rigor, o conflito em curso é o prolongamento da peleja política-eleitoral do ano passado e o corolário lógico de uma luta de fundo que se desenvolve ininterruptamente há longo tempo na sociedade brasileira. A elevação do nível do conflito político também não deve causar temor. O que se espera das forças consequentemente de esquerda e progressista é que compreendam a natureza e o sentido dos acontecimentos, marchem e se coloquem à altura dos desafios, com nitidez programática e adequados métodos de luta, o que pressupõe conhecer a natureza do inimigo e a convicção de que está descartada a conciliação com este.
A encruzilhada diante da qual se depara o povo brasileiro implica a opção de avançar na realização de mudanças estruturais – o que significa adotar um programa patriótico, democrático e popular correspondente às verdadeiras necessidades da nação e aspirações do povo – ou ceder às classes dominantes e seus aliados imperialistas internacionais. Cair no defensivismo ou render-se a uma agenda contraditória com o programa vencedor nas eleições seria uma atitude inconsequente. Como afirmou o presidente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em declarações ao Portal Vermelho logo após as manifestações do domingo, “tal como no segundo turno das eleições de 2014, agora com mais desassombro é preciso unir todas as forças possíveis interessadas em continuar o avanço das conquistas sociais e em defesa do Brasil; cabe ao governo Dilma aplicar mais ainda o projeto de governo por meio de constante diálogo que una e amplie a base social que a elegeu e reforce a perspectiva de novas conquistas”.
Nesse sentido, “ouvir a voz das ruas” é principalmente tomar em consideração a mensagem das urnas e a vontade popular que se expressou nas manifestações da sexta-feira passada, que associaram o apoio ao mandato da presidenta à luta em defesa dos direitos sociais e pela realização de reformas.
O desafio deve ser respondido com novas manifestações com caráter progressista e em apoio ao governo democrático-popular liderado pela presidenta Dilma, com a batalha das ideias e com inflexões da agenda política para a esquerda, aumentando a capacidade de unir formas democráticas, patrióticas e populares.
*Editorial/Portal Vermelho.org