Salvador foi fundada em uma época de expansão da igreja católica, movida pela luta contra a Reforma Protestante. Com os colonizadores, vieram os padres Jesuítas que construíram muitas igrejas como forma de demarcar território. Há uma lenda que diz que Salvador tem uma igreja para cada dia do ano – 365. Existe, contudo, muita discordância em torno desse assunto. Alguns especialistas afirmam que não passam de 100 as igrejas seculares, outros dizem que se levar em consideração as capelas e igrejas de bairros que não estão sitos no centro, esse número é superior a 365.
Já os terreiros de candomblé são 1.165, conforme mapeamento feito pelo Centro de Estudos Afro Orientais da Universidade Federal da Bahia (Ceao/Ufba). O estado da Bahia conta hoje com Quilombos Contemporâneos conhecidos como Comunidades Remanescentes de Quilombos. Estas comunidades associadas aos quilombos urbanos são engajadas na luta pelo direito à terra e condições dignas de sobrevivência e bem estar social. Em Salvador, na região da Estrada Velha do Aeroporto há o Quilombo do Orobu. Ele fica nas proximidades da lagoa do Orobu, no bairro de Cajazeiras, de onde emanam dezenas de terreiros.
O escritor Walter de Oliveira Passos relata em sua obra a importância histórica e cultural do Quilombo do Orobu. A estrutura dessa comunidade se baseava no culto aos ancestrais africanos – orixás, Nkisis ou Vodunsis. “O Quilombo do Orobu foi uma revolta religiosa dos adeptos do candomblé contra a escravidão em 1826 na cidade do Salvador. Caso único conhecido até o momento no Brasil”.
“O interessante foi à revolta ocorrer em momentos de rebeliões de negros islamizados. Revoltas estas, muito estudadas por historiadores e defensores da predominância yorubá na cultura afro-baiana, chegando ao cúmulo de negarem as influências das civilizações Banto e suas reações armadas contra a escravidão no estado da Bahia. Neste mesmo período ocorrem revoltas de negros Macuas (Moçambique) em Salvador”, relata Passos.
Até o início da década de 1950 os quilombolas costumavam negociar suas produções nas cidades, através do comércio informal, devido às perseguições que sofriam. O Quilombo Orobu, por exemplo, foi vítima de um massacre por tropas do governo. “O combate entre as tropas do governo (Batalhão Pirajá) e os quilombolas do candomblé do Orobu aconteceu no dia 17 de dezembro de 1826, quando os negros foram acusados de cometer assassinatos, roubos, incêndios de casas e rapto de uma menina branca”, conta Passos. Na ocasião, as tropas do governo usaram armas de fogo contra os negros que estavam armados com arcos e flechas, facões, foices, espadas antigas entre outras.
Os quilombolas Orobu recuaram devido a desvantagem no combate, restando apenas a negra Zeferina que lutou até ser presa. “Com a derrota dos quilombolas se iniciou uma violenta perseguição policial contra os negros da região, sendo realizadas diversas prisões e destruição dos objetos de culto”, rememora o escritor. O rei do quilombo foi ferido e preso, ficando internado em um hospital da região.