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Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, versou Belchior logo na primeira estrofe de sua Divina Comédia Humana, metáfora do gênio cearense que comprova minha tese de que a vida imita o futebol. Mais angustiante para um goleiro do que o gol, certamente, é o frango, ainda mais em uma decisão.

Estava mais angustiado que um goleiro na hora do frango, poderia ter escrito o sumido bigodudo. Isso porque o frango não é um gol comum. Carrega consigo altas doses de constrangimento. Vira uma piada sem fim para a torcida adversária e uma espécie de calvário para quem o comete.

Toda essa pseudo-filosofia de botequim serve apenas para nos remeter ao vigésimo sexto minuto do segundo tempo de Bahia e Ceará, ontem, na Fonte Nova. A primeira partida das finais da Copa do Nordeste estava empatada em 0 a 0, placar que se não era favorável ao tricolor baiano, ao menos não o colocava em situação de desvantagem para decidir em Fortaleza, semana que vem.

Mas o que houve? Assisinho, atacante movediço do Ceará desceu pela direita e cruzou para o bom Ricardinho pegar de primeira. Jeanzinho caiu para encaixar, mas a bola passou por entre as pernas do goleiro tricolor. Um frango. Um frangaço. Um frango capaz de deixar angustiado não apenas o jovem de 19 anos, que de tão talentoso, já frequenta a Seleção Brasileira de Base, mas 40 mil torcedores na Fonte Nova. E o pior: depois do frango, ninguém conseguiu ‘salvar a pele’ do arqueiro: nem Zé Roberto, nem Kieza, tampouco Maxi. Terminou 1 a 0 mesmo para os cearenses.

Vale lembrar: pelas semifinais do Nordestão, o goleiro Douglas Pires, reserva de Jean, também engolira um frango diante do Sport. A diferença? O gol redentor de Souza “Ferrugem”, que ontem faltou, para a angústia de Jean, dos mais de 40 mil que passaram muito sufoco para estar na Fonte Nova e de quem acompanhava pela tevê.

Se serve de consolo, todos os grandes goleiros já engoliram frangos. O jovem Jean, revelado na Base tricolor, não pode ser crucificado por conta de uma falha, independentemente do peso que possa ter este erro. Precisa ser ‘blindado’ pela diretoria do Bahia, a fim de que não tenha sua promissora carreira prejudicada. Aliás, como nessa vida não há nada como um outro dia, poderá dar sua resposta com grandes atuações futuras, provando assim que o seu frango não passou de um acaso, impulsionado pela inexperiência.

E é esse ponto que, penso eu, precisa ser enfatizado: Jean foi lançado muito precocemente a titularidade. Se há uma posição em que a experiência é fator fundamental, esta é a de goleiro, porque a defesa precisa ter confiança em quem está lá atrás. Não à toa que uma das máximas do futebol diz que “todo grande time começa com um grande goleiro”. Jean tem tudo para vir a ser um grande goleiro. Ainda não é, pois está em formação. Diretoria e comissão técnica deveriam saber disso.

Seria injusto demais crucificar um jovem e talentoso goleiro.

Força, Jean!