Entrei em casa e fui ávida a sua procura. O silêncio me apanhou. Despi-me das bolsas que havia e pus-me a tirar as botas sujas de lama. Liguei vezes seguidas, mas a chuva não deu trégua e não encontrei sinal algum. Tentei ainda seu outro número. A operadora devia me odiar. Nunca funcionava. Deixei um recado na sua secretária eletrônica falando da urgência. Esperei. Nada. Nenhum sinal. Tremia só de pensar. Não entrei no box para tomar banho, mas sentada ali na porta do banheiro eu tremia só de pensar. A chuva caía forte lá fora. Aqueles assovios que o vento fazia me davam medo. Eu queria apenas um sinal de que você me ouvia. Olhei o whatsapp e você não estava online. Última visualização feita há 2 horas. Logo você sempre conectado. Não era possível. Eu tinha saído correndo de uma reunião importante para encontrá-lo a tempo e fazermos amor loucamente, mas não era possível. Você não me esperou. Tentei mais algumas vezes a ligação, sem sucesso. Não sabia o que fazer ali, sozinha, sem você. Eu nunca sabia. Eu, tão barulhenta, fixava as paredes silenciosas da casa e paralisava. Não tinha pra onde ir, mas queria ir a algum lugar porque ficar ali sem você não fazia sentido algum. Como você pôde sumir assim? Não entendi e me descontrolei. Era como se a casa fosse me engolir sem mastigação nenhuma. Era como se eu tivesse sob a ameaça de um assassinato declarado. Aquele silêncio duplo me arruinaria. O seu, o da casa. Virei a caixa de tranquilizante goela abaixo. Caí em um buraco negro e me enchi de pesadelos estranhos. Até hoje não lembro se ele voltou ou não.