A poeira sobe, o sol escaldante grita por uma cerva gelada. No embalo do reggae e do arrocha, o mocofato e o churrasquinho de bode sustentam à espera dos anfitriões do dia: os jegues!! É a tradicional Corrida de Jegue de Afligidos, distrito de São Gonçalo dos Campos. Uma vez por ano o pequeno vilarejo de 3 mil habitantes, onde nasceu meu pai, dá espaço para a festa mais esperada do ano. A 29º edição ocorreu dia 22 de novembro deste ano.
A festa começa no sábado com a concentração da fanfarra na fazenda do criador do evento Raimundo Brandão (já falecido) acompanhado do rei e da rainha do jegue que desfilam pela cidade em uma carroça puxada por nada mais nada menos que um jegue. E lá vem a povo junto com outro jegue – montado por um dos moradores – que entra de bar em bar pra fazer “aquele” movimento. É isso mesmo que você leu: o jegue entra de bar em bar com a galera toda que o acompanha. E tome-lhe cerveja e cachaça. kkkkkkkk E nasce aquela roda de samba pra ninguém botar defeito. É muito divertido, gente.
E chega domingo! O dia amanhece e ainda tem gente na rua só no “xenhenhem”. Chega ônibus e mais ônibus com a população das regiões vizinhas para a farra ficar ainda melhor. É o dia todo de muita brincadeira, música e cachaça até o “grand filnale”.
Final da tarde a rua principal vira a pista de “Mônaco do Nordeste”. Os jegues são avaliados e os que tiverem com maus tratos não participam. São várias baterias com 3 a 4 jegues. É dada a largada!! E o jegue emperra, não quer sair de jeito nenhum. É dada a largada!! É o jegue só quer ficar de costas. É dada outra largada aí meu irmão, tem jegue que encasqueta e não quer sair de maneira nenhuma, tem que esperar até ele ficar “de boa” kkkkkkkkk.
Aí é dada outra largada!! É uma correria só, o povo grita, e torce; o “jeguéi” (o montador do jegue) caí, aí saí retado da vida…… é muito divertido. Cada bateria tem um vencedor que compete com os outros na última corrida. Este ano o 1º colocado ganhou uma moto, o 2º e 3º também ganharam prêmios.
A organização da festa é formada por moradores e antigos moradores como meu pai e tios que durante o ano saem em busca de patrocínio e precisam muito de apoio das prefeituras, de empresários e de quem puder ajudar na preservação cultura e social das raízes de Afligidos. A Corrida de Jegue também é uma forma de divulgar o distrito além de contribuir para a renda dos moradores.