Época de Natal, logo, ruas lotadas de pessoas fazendo compras, horário de pico, e, após uma chuva torrencial durante a tarde, já é de se esperar que a volta para casa seja “daquele jeito”: Ônibus lotado! A pessoa fecha o guarda- chuva, entra na condução e lá está aquele último lugar, no fundo, que tantos sonham, afinal, até chegar ao local de destino, serão muitas horas de trânsito e um engarrafamento quilométrico.
Vamos adiante, e, num ponto seguinte eis que entra duas amigas e se dirigem à parte de trás do “buzú”. A resenha começa neste momento. De propósito ou não, a voz alta das duas chamava atenção das nove pessoas sentadas e de tantas outras em pé. “Aff, você viu a inauguração do G Barbosa de Pau da Lima? Oxe, aproveitei logo e pela primeira vez na minha vida, eu consegui comprar um ‘queijo cuia’ na promoção ”, diz orgulhosa.
A outra, de prontidão, lembra da época que trabalhou em algum restaurante chique e, em épocas de festas, quando escalada para trabalhar, aproveitava as oportunidades para ir ao banheiro comer medalhão de lagosta e tomar espumante escondido…
Peripécias, “causos” e aventuras não faltam durante a conversa ininterrupta, com duração de horas. O papo alheio atraia os ouvidos, os olhares e a atenção de todos no fundo do ônibus… A vontade que ficava nas entrelinhas era o desejo de fartura no lar, desejo de ter na mesa ou degustar do que a sociedade rotula como bom, vontade de ser profissionais remuneradas de maneira melhor para “comprar” os seus sonhos e desejos…
Chega o ponto de parada e as duas conversadeiras se vão. Na sequência, um senhor esbraveja: “Já deu, estou até com dor de cabeça de tanta falação, Deus é mais”! Uma senhora, do outro lado, completa: “Como é que conseguem falar tanto, imagine o que marido delas não passam”. E assim começa a outra resenha…
…Ônibus vazio, enfim, chega o final de linha e da história. É hora de descer.