De autoria de Andréa Magnoni, “Cores e Flores para Tita” exibe fotos e depoimentos de pessoas transgêneras e cisgêneras, no  Teatro Gregório de Mattos, com entrada franca…

A maneira trágica como se deu a vida e a morte de um familiar próximo permeou, durante anos, o imaginário da fotógrafa paranaense Andréa Magnoni. Reflexões como “o gênero não está entre as pernas, mas sim entre as orelhas” além do olhar cuidadoso sobre a identidade de cada pessoa, lhe serviram de inspiração para montar a exposição “Cores e Flores para Tita”, que estreia dia 10 de maio, no Teatro Gregório de Mattos, em Salvador, com entrada franca.

Modelo Diego Nascimento  Foto: Andréa Magnoni

Modelo Diego Nascimento Foto: Andréa Magnoni

Durante anos, a família se referiu ao tio de Andréa Magnoni como uma lésbica: “Mas, Tita, você é menina. Eu te banhei quando você era criança”, retrucava a mãe ao repudiar o comportamento masculino com o qual Tita se identificava. Há três anos, Andréa se deu conta que seu tio Tita era, na realidade, um homem transgênero.

A história se deu em Terra Roxa, interior do Paraná, nos idos da década de 70. Tita sofreu um estupro corretivo, do qual engravidou. Diante de tamanha agressão, desistiu da vida e se envenenou. Não sem antes deixar uma carta para a família, onde pediu que fosse enterrado de preto, com roupas de identidade masculina. Mas o velório e enterro de Tita foram feitos com trajes em vestido de noiva – como era costume da época (1973). 20 anos depois, ao fazerem a exumação do corpo, não restava nada do vestido e ao lado da ossada foram encontradas as roupas pretas, intactas. Mistério pro qual a família nunca teve explicação.

Banner Flores para Tita

 

A exposição Cores e Flores para Tita dá-se em torno da memória deste tio que Andréa não conheceu (pois morreu aos 15 anos) e traz fotografias de dezenas de corpos trans e cisgêneros, que não se encaixam nos padrões de beleza impostos. Parte deste ensaio é resultado da oficina fotográfica que Andréa ministrou no último janeiro, especificamente para pessoas transgêneras, onda elas também se autorretrataram. O material foi exposto na mostra exclusiva Solidões Trans e Travestis, que agora integra a nova exposição.

Há três anos Andréa Magnoni desenvolve, a partir da escuta sensível e olhar atento, uma pesquisa de ordem pessoal e intuitiva. Por isso alerta sobre a violência diária que sofrem os transgêneros. Busca sensibilizar as pessoas para a dura realidade que faz do Brasil o país líder em crimes homofóbicos no mundo, segundo dados da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).

Modelo: Diego Nascimento   Foto: Andréa Magnoni

Modelo: Diego Nascimento Foto: Andréa Magnoni

Serão 139 fotos espalhadas no ambiente, permeadas pelos relatos poéticos de Lisa Vietra (atriz e escritora) e Tito Carvalhal (homem trans e poeta), que descrevem a história do tio Tita. Há ainda duas instalações artísticas sobre o personagem central, e uma outra com mil papeizinhos contendo as iniciais dos nomes, idade do óbito, cidade e causa mortis, um alerta simbólico às milhares de pessoas que morrem vítimas da transfobia no Brasil.

Modelo Icaro Ramos  Foto: Andréa Magnoni

Modelo Icaro Ramos Foto: Andréa Magnoni

A exposição começa no próximo dia 10, no Teatro Gregório de Mattos, e tem visitação gratuita das 14h às 19h, de quarta a domingo, até 12 de junho. Na estreia, que é aberta ao público interessado, haverá apresentação artística de Mathieau e Mila Kokaev e roda de conversa com Diego Nascimento, Lanmi Tripoli, Tito Carvalhal e Viviane Vergueiro (alguns dos fotografados). Nesta noite ainda será exibido o trailer do documentário “Transformando o Olhar”, de Susan Kalik, que traz depoimentos pessoais e exclusivos de transgêneros, a ser lançado na Bahia em julho.

Foto: AcervoAndréa Magnoni

Foto: AcervoAndréa Magnoni

Andréa Magnoni

Nascida em Terra Roxa, interior do Paraná, mulher cisgênera, está há 8 anos na Bahia, onde trabalha como terapeuta holística e fotógrafa. Desde sua vivência em São Paulo as questões sociais chamavam sua atenção e faziam parte das suas lutas. “Se uma bandeira é humana, ela é minha. Não preciso ser negra para lutar pelo empoderamento negro”, declara.

Embora o assunto principal seja a transgereneridade, nesta exposição Andréa quer mostrar a beleza única do ser. Evidenciando as individualidades, nos faz um convite para refletir sobre a pluralidade do existir.

O projeto Cores e Flores para Tita foi contemplado no Edital Arte em Toda Parte, ano III, da Fundação Gregório de Mattos e Prefeitura de Salvador, e tem a produção da Kalik Produções Artísticas.