Como o jogo dos inocentes monstrinhos devassa novo território da intimidade e mapeia os ambientes em que você vive e trabalha. Por que o Google, proprietário, transmite os dados a “anunciantes e agências do governo”…
Pode falar-me do “Pokemon Go”?
Já dei três entrevistas sobre isso, de modo que agora tenho de me aprofundar nas fontes primárias.
Programador do jogo: Niantic Labs. É uma start-up da Google. Os laços da Google com o Big Brother são bem conhecidos, mas irei um pouco mais fundo.
A Niantic foi fundada por John Hanke, o qual fundou a Keyhole, Inc. – um projecto de mapeamento de superfícies cujos direitos foram comprados pela mesma Google e utilizados para criar o Google-Maps, o Google-Earth e o Google Streets.
E agora, atenção, observe as mãos! A Keyhole, Inc. foi patrocinada por uma empresa de capital de risco chamada In-Q-Tel , que é uma fundação oficialmente da CIA estabelecida em 1999.
As aplicações mencionadas acima resolvem desafios importantes:
Atualização do mapeamento da superfície do planeta, incluindo estradas, bases [militares] e assim por diante. Outrora tais mapas eram considerados estratégicos e confidenciais. Os mapas civis continham erros propositais.
Robôs nos veículos da Google Streets olhavam tudo por toda a parte, mapeando nossas cidades, carros, caras…
Mas havia um problema. Como espiar dentro dos nossos lares, porões, avenidas com árvores, quartéis, gabinetes do governo e assim por diante?
Como resolver isso? O mesmo estabelecimento, Niantic Labs, divulgou um brinquedo genial que se propagou como um vírus, com a mais recente tecnologia da realidade virtual.
Uma vez descarregada a aplicação, e dadas as permissões adequadas (para acessar a câmara, microfone, giroscópio, GPS, dispositivos conectados, incluindo USB, etc), o seu telefone vibra de imediato, informando acerca da presença dos três primeiros pokemons! (Os três primeiros aparecem sempre de imediato e nas proximidades).
O jogo exige que você dispare para todos os lados, atribuindo-lhe prmios pelo êxito e ao mesmo tempo obtendo uma foto da sala onde está localizado, incluindo as coordenadas e o ângulo do telefone.
Parabéns! Acaba de registar imagens do seu apartamento! Preciso explicar mais?
A propósito: ao instalar o jogo você concorda com os termos do mesmo. E não é coisa pouca. A Niantic adverte-o oficialmente: “Nós cooperamos com agências do governo e companhias privadas. Podemos revelar qualquer informação a seu respeito ou dos seus filhos…”. Mas quem é que lê isso?
E há o parágrafo 6: “Nosso programa não permite a opção “Do not track (Não me espie) do seu navegador”. Por outras palavras – eles o espiam e o espiarão.
Assim, além do mapeamento alegre e voluntário de tudo, outras oportunidades divertidas se apresentam.
Por exemplo: se alguém quiser saber o que está sendo feito no edifício, digamos, do Parlamento? Telefones de dúzias de deputados, pessoal da limpeza, jornalistas vibram: “Pikachu está próximo!!!” E cidadãos felizes agarrarão seus smartphones, ativarão câmeras, microfones, GPSs, giroscópios… circulando no lugar, olhando a tela e enviando o vídeo através de ondas online…
Bingo! O mundo mudou outra vez, o mundo está diferente.
Bem vindo a uma nova era.
*Por Sergey Kolyasnikov, no Diário Liberdade/Outras Palavras*