CAPITULO III | No dia 11 de Novembro do ano de 1981, eu e Carlos nos casamos no civil, sem planejamento, as pressas, porque eu estava grávida, envergonhei meus pais, abusei da confiança deles, antigamente, engravidar antes de casar era motivo de vergonha.
Éramos muito jovens, saímos do controle e o resultado foi “responsabilidade”. Não lamentamos, aceitamos tudo com muita alegria.
Meu casamento simples, sem festa, não me abalou, o que importava mesmo era a felicidade e a expectativa de ser esposa e logo, logo mãe.
Carlos comprou uma cama, um colchão e um fogão. Minha mãe nos presenteou com um botijão de gás (cheio, claro) e eu comprei alguns utensílios de cozinha, toalhas e lençóis. Carlos tinha uma mala onde guardava suas roupas e eu tinha uma caixa. Esses eram nossos móveis.
Fomos morar em uma cabana, isso mesmo, uma pequena e linda cabana, rodeada por árvores frutíferas: cajueiros, coqueiros… Carlos pintou a cabana de branco, fez piso de cimento vermelho e ficou a casinha mais linda desse mundo. Em meus sonhadores 18 anos isso bastava para ser feliz; dois corações apaixonados, onde já batia um terceiro coraçãozinho, que logo nasceria para nossa alegria.
Nosso primeiro almoço no aconchego da cabana foi moqueca de peixe, feita por Carlos, com direito a brinde com champanhe quente.
Em menos de quatro meses Carlos alugou uma casa maior com dois quartos, pois em breve nosso filho nasceria. Compramos o enxoval, o berço, uma cômoda e montamos o quarto do bebê. No dia 5 de Março, do ano de 1982, nasceu Carlos Eduardo, nosso primeiro filho; lindo saudável e tranquilo, um presente de Deus. Todo final de semana íamos para a casa de meus pais, para aquela linda casinha da Escola Rui Barbosa.
Carlos conversava bastante com minha mãe e em uma dessas conversas ele a aconselhou a fazer uma poupança, para que no futuro pudesse comprar sua verdadeira casa. Ela seguiu o conselho e em menos de três anos conseguiu comprar uma casa, ela vibrou de alegria, pois agora era verdadeiramente proprietária. Mudou-se para sua nova casa, mas sempre cuidava com carinho da casinha da escola, onde trabalhou por 35 anos, sendo sempre querida pelos alunos, professores e demais funcionários.
No dia 4 de Julho de 1984, nasceu nosso segundo filho, Jonatan, um bebê lindo, forte, tranquilão, outro presente de Deus; e assim seguia em frente nossa trajetória familiar.
Nossa condição de vida era simples, porém confortável, mas tempos depois essa condição começou a mudar, Carlos perdeu o emprego na empresa de ônibus São Geraldo, então decidiu trabalhar por conta própria. Comprou uma barraca e começou a vender verduras na feira com ajuda de meus irmãos Bido e Vilma, mas isso não estava dando lucro, Carlos não tinha vocação para o “negócio” e a concorrência era enorme. Ele começou a ficar preocupado, não sabia o que fazer para manter o mesmo padrão de sustento à sua família, foi então que ele recebeu uma proposta do cunhado, esposo de sua irmã Maria, para formar sociedade no restaurante que ele tinha em Esplanada/BA.
Carlos viu aí uma luz, oportunidade boa, não teve dúvidas e pegou todo dinheiro que tinha recebido da Empresa São Geraldo, viajou para Esplanada e investiu tudo na sociedade. Não nos levou logo porque John tinha somente 1 mês de nascido, não podia ser exposto a uma viagem longa.
Em menos de 30 dias Carlos veio nos buscar, mãe ficou triste, pois eu estava com dois filhos pequenos e ia morar em uma cidade distante, meu pai até chorou, pois ele gostava de ir para minha casa e ficar brincando com Eduardo (Gugu).
Fomos morar na casa da irmã de Carlos até encontrar uma casa próxima do restaurante para alugar. Não foi boa ideia. Ela que sempre demonstrou gostar de mim, em pouco tempo começou a me tratar mal, impor obrigações que eu sozinha não dava conta. Tinha que lavar as roupas, cuidar da casa e dos meus filhos… Eu não podia dizer não, estava precisando dela. Para completar, Eduardo ficou doente, ele tinha apenas 2 anos, necessitava de cuidados e atenção, então eu tinha que cuidar da saúde dele, de John, que era um bebê de 2 meses e da casa dela.
Por causa dessa sobrecarga e de tantas preocupações adoeci, peguei uma infecção séria. Carlos me levou ao médico que receitou 30 injeções de antibiótico e repouso. Como repousar? Quem cuidaria das crianças? E a situação na casa de minha cunhada continuava constrangedora e desagradável.
Carlos alugou uma casa e foi em Entre Rios buscar Belisco, seu sobrinho para me ajudar. Graças a Deus a gente se dava muito bem, ele me ajudou muito.
A sociedade no restaurante não estava dando certo, não foi o esperado, não estava acontecendo um retorno financeiro satisfatório e não estava havendo concordância entre Carlos e o cunhado. O resultado foi terminar a sociedade, Carlos recebeu menos da metade do investimento financeiro aplicado no restaurante. Ele alugou um pequeno ponto e abriu um bar, que também não deu certo. As preocupações voltaram. Como pagar o aluguel? Como sustentar a família? Ele resolveu tentar a sorte em Entre Rios, sua terra natal, onde seus pais moram. Lá, por mais que procurasse, não encontrava emprego, então começou a trabalhar como ajudante de pedreiro, não deixaria sua família passar necessidade.
Tempos difíceis para esse jovem homem, que em pouco tempo ficou sem emprego, sem dinheiro e com esposa e dois filhos pequenos para sustentar. Ele não mediu esforços, não escolheu trabalho, buscou com dignidade o sustento da família.
Foi me buscar em Esplanada, passamos a morar na casa de seus pais, foi tranquilo, todos gostavam de mim. Moramos lá por pouco tempo, meu sogro tinha duas outras casas no bairro Bela Vista e deu uma para nós, na outra morava um irmão de Carlos. Era uma casa grande, dois quartos, mas era de taipa, não tinha piso nem reboco, Carlos arrumou ela todinha! Fez piso de cimento, rebocou, pintou, arrumou o banheiro, fizemos um jardinzinho na frente, ficou muito linda, fiquei feliz, tínhamos agora um cantinho nosso e, para completar, tinha um enorme quintal cheio de árvores frutíferas, os meninos tinham espaço para brincar a vontade.
No inverno a gente plantava feijão fradinho, milho e quiabo. Minha sogra me deu um galo e uma galinha. Nossa! Essa galinha botava tantos ovos, eram tantos pintinhos que nasciam, era uma festa para os meninos! Eles brincavam e cresciam em um ambiente tranquilo, espaçoso, saudável e alegre.
Carlos começou a trabalhar em firma de construção civil, voltamos a ter um padrão de vida razoável.
No dia 2 de Maio de 1988 nasceu nosso terceiro filho, Adson Alan, outra criança saudável, forte e tranquilo, benção de Deus.
Os meninos cresceram, foram para a escola, fizeram catequese e primeira comunhão. Procurei ensiná-los valores: Amor, respeito, verdade, humildade, honestidade, fé e esperança, a acreditar e confiar em Deus, Jesus Cristo e Nossa Senhora.
Continua…