Um papo sobre escolher uma profissão que faz o coração aquecer

Por Curiando o Rolé 

“A fotografia salvou minha vida”. Esta frase resume nosso bate-papo com Magali Moraes, mulher preta, fotógrafa, professora e blogueira estourada. Insatisfeita com o trabalho que engessava sua criatividade, resolveu seguir o que aquecia seu coração e a fotografia, que até então era um hobby, tornou-se sua profissão.

“Saía e voltava para casa com tudo escuro. A vida ia me atropelando e eu era muito infeliz. Chegava em casa reclamando. Minha esposa (Bárbara) uma vez me perguntou: como você se imagina daqui 10 anos? Respondi: me imagino na mesma empresa, em um cargo muito melhor, ganhando muito mais e reclamando muito mais. Essa foi minha resposta à previsão de projeto de vida em 10 anos. Ela disse que eu deveria repensar”.

Alterações em exames de rotina e um nódulo na tireoide foram os impulsos definitivos para a mudança. “Achei que ia morrer sem felicidade, sem realizar grandes coisas e isso foi a virada de chave. Decidi fazer algo que me fizesse feliz para além do dinheiro. Bárbara perguntou o que eu faria? Respondi: fotografia”. 

Foto: Divulgação

A fotografia sempre esteve presente na vida de Magali, nos trabalhos de escola ou quando viajava e a máquina era a primeira coisa que entrava na mala. “Tenho 35 anos e sou de uma geração que pensar em seguir uma área dessa não era opção. A fotografia sempre esteve nesse lugar de hobby, investia em cursos porque eu queria fotografar melhor para mim, investia em equipamento porque queria investir em mim. Era uma coisa que me dava prazer”.

Um belo dia resolvi mudar

O diagnóstico saiu, o nódulo era benigno. Três dias depois, o diretor ofereceu uma promoção no trabalho, mas ela disse que iria embora, queria ser feliz. Pegou sua rescisão inteira e investiu em curso, na compra de equipamento e estruturou sua empresa. A primeira coisa que ela fez foi abrir um MEI (Microempreendedor Individual). 

“Comecei me formalizando porque entendia que aquilo precisava ser bem-feito. Fiz curso em São Paulo de Direção de Fotografia e Cinema. Eu queria trazer uma linguagem diferente, não ser só uma fotógrafa no mercado, queria me especializar e fazer um trabalho diferente do que todo mundo estava acostumado, queria algo que impactasse”, conta como surgiu Magali Moraes Fotografia há 7 anos.

Iniciou fotografando shows. O convite do Olodum surgiu muito cedo, bem no começo da sua trajetória, há 6 anos, o que lhe deu visibilidade. Já fotografou nomes como Carlinhos Brown, Maroon 5, Nanda Costa, Tia Má, o que a deixa muito orgulhosa da sua carreira. Mas não para de investir em estudos. “A ideia é entender que você precisa ser melhor, não melhor que o outro, mas melhor que si mesmo, utilizar sua própria régua como evolução”.

Oportunizar

Os trabalhos foram aumentando e ela ficou estourada e olha que nem estamos falando de Magali blogueira, porque isso é assunto para um outro texto. Para dar conta da agenda, formou outros profissionais. Assim, quando ligassem para Magali Moraes Fotografia, ela teria a tranquilidade de oferecer um fotógrafo e saber que o cliente teria a mesma qualidade de foto se ela estivesse indo pessoalmente.

“Estou em uma área predominantemente masculina e branca. Curso e equipamento fotográfico profissional custam muito caro e a grana é uma barreira para nosso povo. Em 2019, montei uma equipe toda preta, e em 2020 fiz com maioria de mulheres pretas porque eu sei o quanto é difícil para outras mulheres acessarem a fotografia e estarem neste lugar”, celebra.

“Tenho a honra de ser uma fotógrafa que saiu do trivial, porque a gente encontra mulheres, mas na fotografia social, de família, e eu tenho a honra de ser fotógrafa de show, publicitária, que são áreas menos acessíveis. Já passei por muitos episódios, a maior parte de eventos que eu fiz, eu era a única mulher e quando não era, era a única mulher preta”, completa.

Solidariedade na pandemia

Em maio de 2020, Magali, que é professora no projeto Teatro Escola e ministra aulas de fotografia para jovens negros de 14 a 24 anos, resolveu fazer um workshop on-line com custo de 10 reais e com bolsa para mulheres pretas que não pudessem pagar. Ela já está na 31ª turma e a última vez que contou, já tinha ultrapassado 3 mil alunos. Atualmente, o curso custa 50 reais e as turmas são menores.

“A fotografia salvou minha vida e nesse momento pandemia, ela precisava ser um recurso para as pessoas. Fiquei pensando como poderia ajudar e foi aí que surgiu o workshop de fotografia para celular. A ideia era pegar empreendedores e oferecer o curso como forma de melhorar seus produtos. O que era para ser um movimento altruísta, de alguma forma retornou como um grande empreendimento”. 

Magali Moraes
Bacharel em Direito pela Universidade Católica do Salvador
Trabalhava com controle de qualidade, em uma terceirizada da Petrobras na Refinaria Landulfo Alves
Curso de Fotografia na Academia Internacional de Cinema em São Paulo, maior escola de cinema do Brasil