Afinal de contas, o que significa ser intelectual? Essa tem sido uma pergunta que me tem atravessado esses dias. Se lançarmos essa questão para os nossos conhecidos, provavelmente obteremos muitas respostas, visto que há muitas representações sociais sobre a intelectualidade e o “ser intelectual”. Diante disso, lanço para você uma pergunta: você se considera intelectual? Por que?

Como nos últimos tempos tenho recorrido bastante aos dicionários, fui pesquisar o sentido desse termo. De acordo com o site “dicionário informal”, um intelectual é uma pessoa que usa o seu “intelecto” para estudar, refletir ou especular acerca de ideias, de modo que este uso – do seu intelecto – possua uma relevância social e coletiva.

Desejoso de saber mais sobre o que as pessoas pensam sobre essa questão, fiz uma rápida postagem numa rede social questionando acerca do que seria ser intelectual. Na pesquisa informal, alguns conceitos muito interessantes surgiram. Afirmou um jovem que ser intelectual “é buscar sempre aprender e vasculhar conhecimento em todas as esferas da vida. Não basta se entupir de livros, mas sim observar os sábios ao seu redor… um grande intelectual extrai saber até num canto de pássaro…”.

Foto: Sergio Fonseca

Foto: Sergio Fonseca

Para uma amiga de longas datas, “é alguém que tem poder”. Já outra pessoa disse que o intelectual é “um ser que pensa, estuda, tem visão crítica e contribui para o desenvolvimento social”. Um ex-aluno comentou que significa “ter conhecimento…”.

Observemos, então, que as pessoas, em geral, dão algum sentido a este termo e isto provavelmente tem a ver com a construção social de nossa subjetividade, valores, crenças e pensamentos. A tessitura desse texto começou a partir da fala de uma querida aluna que muito me ajudou no planejamento e execução da semana de psicologia de uma das instituições de ensino superior na qual leciono. A mesma relatou que certa feita convidou uma baiana de acarajé para um evento sobre saúde mental e etnicidade para que pudesse, assim, servir o famoso acarajé. Ao chegar no espaço acadêmico e, após armar seu tabuleiro, exclamou: “Nossa!!! Eu estou me sentindo uma intelectual!”

Diante dessa exclamação, me perguntei sobre o que moveu essa mulher. O que está por detrás desse dizer? Por que essa mulher não se reconhecia como intelectual?

Bem sabemos que “os espaços dos intelectuais” são historicamente marcados pelo não acesso de parcela considerável da sociedade. Se considerarmos a Universidade como lócus de saber e poder, perceberemos o porquê desses espaços serem ainda dos “privilegiados”, apesar das mudanças recentes, pois estudantes de grupos sociais diversos têm conseguindo adentrar mais no ensino superior provocando tensionamentos na maneira como está organizada a instituição universitária.

Alguns desses tensionamentos que têm surgido são sutis, como, por exemplo, levar em consideração que o saber não habita apenas este espaço. Há variados tipos de conhecimentos na história da Universidade que não se reduzem ao conhecimento científico, pois esse é apenas uma expressão da sabedoria humana.

A baiana do acarajé se sentiu intelectual ao estar na faculdade, mas bem melhor seria, a meu ver, que essa forte mulher se afirmasse diariamente como intelectual, pois os bolos e quitutes preparados por ela são recheados no azeite e temperos do saber. Sendo assim, o meu desejo é que mais pessoas reconheçam que são intelectuais, sabedoras da vida. Aliás, desejo profundamente que todos tenham a possibilidade de acessar os diferentes espaços de produção de saber, que são a maior herança de nossa sociedade. Sendo assim, no acarajé há saber, poder e sabor. Ele é um ícone de nossa história e quem o faz é símbolo da intelectualidade afro-baiana e brasileira.

Minha aluna contou também que a baiana do acarajé de tempos em tempos pergunta a sua mãe: Quando é que sua filha vai me convidar para um evento na faculdade? Eu, após refletir sobre essas questões (in)finalizo meu texto dizendo: Volte quando puder… Na condição de baiana do acarajé e também na condição de mulher, negra, intelectual e estudante do ensino superior, pois uma mulher empoderada é “recheada de saber”…