“Pernambuco tem uma música que nenhum outro lugar tem”. A assertiva utilizada pelo jornalista José Teles não se pretende bairrista como a princípio possa parecer. Não é. Em “Do frevo ao manguebeat”, lançado pela editora 34, 367 páginas e orelhas assinadas pelo crítico Tarik de Souza, Teles desvela o histórico das manifestações estético-musicais de Pernambuco sem perder a perspectiva dos entrelaces desses movimentos com outros que ocorrem no país e no mundo.
Embora o carnaval pernambucano se apresente como o fio que conduz o autor às explicações do maracatu e do frevo, a origem desses ritmos só faz sentido se entendida no contexto socioeconômico do então estado mais pujante do Nordeste nos anos 50, e sua capital, Recife. A outrora maior metrópole da região abrigou a primeira grande gravadora fora do eixo Rio-São Paulo. Pela iniciativa do empresário José Rozenblit a produção musical do estado encontra canais para acessar o sul maravilha.
A capoeira, o frevo, o maracatu e seus principais compositores e intérpretes. As guitarras de Alceu Valença e Robertinho do Recife eletrificando Capiba, relendo Luiz Gonzaga e a sacação cósmica de Zé Ramalho. Sim, as contribuições também vinham do estado vizinho, a Paraíba. E nada foge à porralouquice dos 70. Egressos do beatnik que assumem a sanfona em duetos com o heavy metal.
O resultado é o som que desemboca nos mangues de Recife e Olinda, onde as parabólicas captam o emergente rock Brasil e o punk inglês.
É tudo trama. Centrífuga que forja o movimento manguebeat e a iniciativa do Abril pro Rock, evento que traz à cena nacional Chico Science e Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e outras bandas de Pernambuco. Rebuliço estético-político que também se manifesta no cinema e noutros campos da arte.
É o punk-caranguejo afirmando raízes sem se deixar levar por nenhum tipo de preconceito com o que rola mundo afora. Os pés cravados na lama e as cabeças antenadas com Nova York e Londres.
O livro de José Teles é resultado de apurada pesquisa e não se limita apenas a explicar o contexto pop recifense. Vai além. O jornalista conhece bem a cena musical brazuca, embora ensaie algumas críticas desnecessárias a nomes da MPB. É leitura obrigatória àqueles que se interessam pela história da música brasileira. Vale conferir.