Helena era perversa. Seu divertimento favorito era tripudiar na cara de empregadas domésticas, porteiros, guardadores de carro e afins. Mas numa bela sexta-feira, véspera de balada, sua segunda maior diversão, a casa caiu.
Como acordara na manhã dessa sexta-feira, véspera de balada, seu segundo maior hobby, com as madeixas ouriçadas, Helena resolvera ir ao salão de beleza – desesperada para se embelezar.
Seu centro de estética favorito estava lotado, sem vagas o dia inteiro. Ela saiu, mas sem antes fazer sua prática dileta: arrotar doses ácidas de estupides na face pálida da atendente do Salão Mimimi.
Passou depois em mais uns cinco, da sua lista de “Salões Vips”. Todos igualmente ao primeiro, lotados. Neles, Helena, a víbora, deixou seu rastro de arrogância e cavalices. Coitadas das recepcionistas.
Revoltada e com os cabelos mais ouriçados ainda, disfarçados com um lenço de cetim, que comprara em uma feira no Marrocos, em viagem que fez há uns duzentos anos, mas que faz questão de ostentar como se tivera sido ontem, Helena chega ao salão ‘Você Bela’. Já entrou gracejando.
– Isso é lá nome de salão que se prese? ‘Você Bela’! Ora, me faça uma garapa (com adoçante)!
Mas era o único que estava vazio, com vaga para atendimento, aguardaria apenas uma jovem senhora que retocava a progressiva em seus envelhecidos e tingidos cabelos. A simplicidade do salão ‘Você Bela’ também incomodava Helena, que a essa altura já simulava uma urticária em seu braço esquerdo. Pura frescura.
Chegou a vez de Helena.
Samantha, a cabeleireira, já torcia a cara ao chamar a entojada para sentar-se na cadeira cor de rosa-choque. A profissional de estética se aplicada em amansar as madeixas ouriçadas de Helena, com esmero – afinal, apesar dos muxoxos e da cara de nojenta, era uma nova cliente.
Helena fazia caras e bocas a cada passada da pranchinha ou a cada escovada. Nada parecia agradar-lhe, mas segurava o ímpeto de provocar a cabeleireira Samantha, afinal a chapinha estava quente, a ‘mil graus’, e ela não queria ser queimada.
Mas foi no final que Helena se estrepou. Como sua língua – ferina – não cabia dentro da boca, quando Samantha cabeleireira, dona do salão ‘Você Bela’, perguntou se estava bom, se Helena havia gostado da escova…
– Gostar, gostar, eu não gostei! Bom, bom, não fic…
A cabeleireira Samantha nem deixou Helena terminar a murmuração e desdenho com seu trabalho. Pegou o borrifador, agarrou a perua pelos cabelos e, disparando jatos impiedosos de água sobre as madeixas recém-escovadas, sentenciou:
– Não gostou? Não paga, mas também não leva!