Quantos passos faltam? ou quais são os passos para a legalização do aborto no Brasil? Duas perguntas instigantes, quando me deparo com a França que comemora 40 anos de legalização do aborto no País, há 40 anos que as mulheres francesas têm direito de decidir com segurança a sua escolha, e na Europa somente três países não tem o aborto legalizado (Lena Lavinas, Carta Capital). Enquanto isso, a realidade do lado de cá, nos Países da America Latina, anda a passos são lentos, somente Cuba e mais recente o Uruguai.

Foto: karen_amazona

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Sobre o Brasil, existe alguns pontos nevrálgicos e que é uma realidade que pode ser igual a muitos lugares no mundo, a compreensão de que a agenda sobre os direitos reprodutivos, mais precisamente o aborto é responsabilidade unicamente do movimento de mulheres e feministas, bem, pode ate ser e dever ser as protagonistas dessa luta, dessa agenda, no entanto a necessidade de ampliar o debate e a adesão de outros sujeitos políticos é de extrema importância, a participação ativa de Entidades e Conselhos de Classe dos profissionais de saúde.

Os profissionais de saúde e para ser mais especifica os profissionais médicos e as profissionais da enfermagem que lançam mão da relação de poder para submeter as mulheres em  abortamento a quadro de constrangimentos e violações, utilizando desse espaço para punir as mulheres, vale ressaltar que os profissionais de saúde assistem a elas com olhar do moralismo e desumanizado, nada profissional, mesmo quando o aborto é previsto por lei, no caso do Brasil são três situações quando a gravidez traz risco de morte à mulher, quando resulta de estupro e interrupção da gravidez, em casos de comprovação de anencefalia fetal, neste momento a humanização fica reservada para as mulheres que estão em trabalho de parto, que nesta situação são mais importante, mas só neste caso. Só para lembrar que o exercício do direito nos serviços de saúde passa pelo entendimento pessoal e moral do profissional, posso citar aqui a pílula do dia seguinte, que cada profissional cria o seu protocolo no atendimento, ou ate mesmo a oferta do preservativo para os/as adolescente, passa primeiro pelo crivo do juízo de valor, para depois quem sabe pelo direito.

aborto 2Trago a reflexão sobre os profissionais, pois ao ler o artigo acima citado, nele me é revelado que a luta pela legalização do aborto tem o protagonismo do movimento feminista “Em 1973, surge o MLAC (Movimento pela Liberalização do Aborto e da Contracepção) que reúne à época não apenas feministas, mas também membros da classe médica que passam a praticar aborto seguro, ainda que ilegal e passível de prisão”, ou seja os profissionais médicos faziam um aborto seguro, contrario do que vemos em nossa realidade com as praticas insalubres e inseguras, realizadas com profissionais despreparados em clinicas de fundo de quintal.

Quantas mulheres precisam morrer e virar estatística para que alguma coisa de fato aconteça neste País, pois todos os anos contamos quantas mulheres morrem por conta da clandestinidade na procura desesperada para solucionar a sua vida. Sei que vamos precisar de muitos caminhos, pois o nosso País tem uma preferência pelo retrocesso, pela violação dos direitos básicos, que é a vida.

Vamos precisar de muitos outros sujeitos para intensificar e agregar a luta, porque ainda faltam muitos passos, considerando que temos neste momento temos um parlamento reacionário, quase dos tempos das trevas, das caças as bruxas, e as bruxas somos nós. Então são a nós que eles vão caçar, as que lutam por direitos de decidir, de escolher, direito a autonomia do corpo e da vida, contra a lesbo-homofobia, contra ao patriarcado, contra ao sexismo e sobretudo contra o racismo.

*Por Emanuelle Goes – Enfermeira, Blogueira, Odara Instituto da Mulher Negra, Doutoranda em Saúde Pública (UFBA)