Série revivendo boas histórias da estrada! Nessas férias de janeiro, o Bahia na Lupa rememora reportagens antigas de alguns roteiros de viagem por nosso imenso território baiano. Gente, lugares, comidas, costumes…
No contraluz da esplendida paisagem entre o paredão natural de argila e as águas mansas do mar de Gamboa, vizinha à badalada Morro de São Paulo, vinha saltitando um serelepe menino.
Ele se achegou, com malemolência e esperteza no falar.
– Tio, sou nativo daqui. Olhe nosso cardápio… Barraca Pôr do Sol, temos bons petiscos e a cerveja, hummm… fazemos a oito reais, qualquer uma!
O pequeno Liedson, ou Caio, ou Gunin…
– Meu nome mesmo é Liedson, mas teve um irmão meu que me chamava de Caio, não sei por que, e meus colegas me chamam de Gunin…
No auge dos seus 11 anos de vida e experiência sobre as riquezas naturais e turísticas de Gamboa, o franzino garoto puxou conversa como se conhecesse, com amizade parental, esse mambembe cronista que vos escreve.
E lá caminhamos pela extensão de praia, entre turistas lambuzados de argila [- é um santo remédio natural para deixar a pele macia], rumo a um oásis em meio aquele sol escaldantemente tropical: um sombreiro, cadeira reclinável e uma cerveja estupidamente gelada.
– Trabalho desde cedo, tio, pois minha mãe diz que a gente tem que procurar o que fazer para não dar pro que não presta…
– Ela está certa, mas é preciso estudar também, é muito importante…
– Sim, sim, mas eu estudo, tô no quarto ano!
E enquanto o oásis se aproximava, o pequeno nativo de Gamboa revelava qual era seu maior sonho…
– Ah… Quero ser jogador de futebol e ter uma Pop!
Um silêncio indigesto de alguns segundos me fazia entender que a tal Pop é na verdade uma pequena moto popular. Sonhos… que acalanto mais desconcertante.