“Enfim, a África no plural”. Com o propósito de ser uma espécie de antídoto para curar o imaginário infantil acometido pela fábula eurocêntrica e carente de referenciais africanos sólidos, a exclamação acima resume bem o universo do espetáculo infanto-juvenil Áfricas, uma produção do Bando de Teatro Olodum, dirigido por Chica Carelli. A peça transborda ao público o mundo mítico africano, sua história, seu povo e religiosidade e conecta aquele continente negro à Bahia.

africas 1

“Queremos proporcionar um encantamento com a África, sua história e cultura e despertar a curiosidade de todos em conhecer mais sobre este imenso continente tão importante para o Brasil”, sintetiza a diretora Chica Carelli, que também é fundadora do Bando – grupo teatral responsável por revelar talentos para o país, como Lázaro Ramos, Erico Brás, Jorge Washington, Cássia Valle, Tânia Toko entre outros personagens célebres de “Ó Paí, Ó” e de outras produções.

O elenco canta, toca e dança neste espetáculo que recria a riqueza cultural da África, sem os estereótipos de “animais selvagens, doenças e fome”, em cores e canções, gestos que revelam o surpreendente, mágico e lúdico ambiente das lendas e contos africanos – que ultrapassaram séculos e continentes através das narrativas dos griôs, ancestrais detentores da sabedoria e da linguagem oral, conforme explica Carelli.

africas 2

“Queremos apresentar estas histórias de forma lúdica e mágica, despertando também o interesse de adultos. Em nenhum momento pensamos em infantilizar a África”, revela a diretora. Ela afirma ainda que pesquisou inúmeros contos e histórias africanas, mitos dos Orixás, e ouviu pesquisadores sobre a África, durante o processo de concepção da peça, iniciado em 2006.

Africas 322

No espetáculo, além do contato com esse universo plural, ao público são apresentados outros elementos positivos da herança africana deixada no Brasil: “As crianças descobrem na peça que seus antepassados não foram apenas escravos, mas sim homens e mulheres nobres, guerreiros e detentores de uma vasta sabedoria ancestral”.

Reforçam a equipe técnica de Áfricas profissionais carimbados, como o coreógrafo Zebrinha, o diretor musical Jarbas Bittencourt, que criou músicas especiais para o espetáculo, os iluminadores Rivaldo Rio e Fábio Espírito Santo e Zuarte Júnior, responsável pelo figurino e adereços, com muitas cores e elementos do cotidiano africano.