Falar de amor é tão clichê quanto gostoso. Aliás, penso que só quem fala de amor é quem consegue experimentar a riqueza e a generosidade que provêm de um sentimento tão nobre. Pois então. Aqui estou eu, amante nato. Um homem que vive de amor e escolhe viver dessa maneira porque é assim que a sua felicidade se completa. Antes que me perca nessa viagem, quero falar sobre o que antecede o amor e discutir algumas verdades do senso comum.
“Não escolhemos quem amamos”. Falácia. Balela. Pura fantasia. O amor é como uma viagem para aquele lugar que você nunca foi e sempre sonhou. Você imagina que será algo muito especial, que terá as melhores experiências, que conhecerá muita coisa que não conhecia e que aquilo ficará guardado para sempre nas suas memórias. No entanto, antes da viagem, você vai procurar informações sobre o que virá pela frente, sobre o que aquele lugar pode oferecer e, se tudo for atraente o suficiente, você comprará a passagem e, só então, embarcará. A decisão de comprar a passagem será majoritariamente racional. O que você vivenciará é que vai envolver o racional e o emocional, principalmente.
“Os opostos se atraem”. Certo. No entanto, são os iguais que se completam. A atração é efêmera. Se não há nada além disso, as barreiras carnais não são ultrapassadas. A viagem dos sonhos de um surfista é para um lugar em que haja ondas! Um lugar diferente da realidade dele poderá ser atraente no primeiro momento, mas dificilmente oferecerá as mesmas sensações e experiências que uma praia com as ondas perfeitas.
“De sofrer e de amar, a gente não se desfaz”. Com a permissão de Guimarães Rosa, um dos nossos mais representativos autores, contraponho-me. Amar não é sofrer necessariamente. Estamos habituados a entender o sofrimento como parte integrante do sentimento mais nobre. Afirmo: não precisamos sofrer para amar e nem vice-versa! Não defendo a praticidade dos amores líquidos, brilhantemente estudada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman (cabe uma leitura póstera), mas não considero salutar defender que enquanto amantes precisamos experimentar, com frequência e naturalidade, sentimentos tão amargos. Certamente que não prevemos que o lugar dos sonhos poderia apresentar alguns problemas de ordem operacional, como um hotel ruim, um idioma de difícil compreensão e locais que aparentavam ser mais bonitos nas fotos, mas a força do amor virá daquilo que, de fato, consegue te fisgar ao longo da viagem.
Por tudo isso, sou prático: os gatilhos do amor moram no seu cérebro. É ele quem vai trabalhar as circunstâncias e avaliar as possibilidades dessa relação. Se achar que comprar a passagem de ida será válido, experimente todas as nuances que aquele destino poderá te oferecer. Explore ao máximo e perceba se é este o seu lugar. Se nada conseguir te agradar o suficiente, reflita se não é hora de comprar a passagem de volta.