Depois de dez dias de funeral, o corpo do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, ícone da luta pelos direitos humanos, contra o racismo e as desigualdades, foi enterrado neste domingo, 15 de dezembro, por volta das 12h40 (8h40 no horário de Brasília), em Qunu, aldeia onde ele passou a infância e também estão os restos mortais de três de seus filhos. Apenas 450 pessoas participaram da última parte do funeral. O túmulo onde o caixão foi colocado estava rodeado de flores brancas.
A partir de então, não foram mais permitidas a captação e a transmissão de qualquer imagem. A imprensa não teve acesso ao local – uma área rural, onde a família de Mandela tem uma fazenda e onde se cultivam tradições seculares. De acordo com os organizadores, membros da tribo à qual Mandela pertencia realizariam um ritual de sacrifício animal, parte do processo de comunicação com os ancestrais, para que o espírito da pessoa descanse.
Antes do enterro, uma cerimônia para cerca de 4.500 pessoas foi realizada, durante três horas e 40 minutos, em uma grande estrutura coberta, construída na propriedade da família especialmente para o funeral. Entre os presentes, além da família, personalidades da África do Sul e de todo o mundo, como o príncipe herdeiro do Reino Unido, Charles, a apresentadora de TV norte-americana Oprah Winfrey, e chefes de Estado de países africanos.
O caixão com o corpo de Mandela chegou ao local carregado por militares, após percurso feito por um caminhão, acompanhado por centenas de homens das Forças Armadas que marchavam ao som de uma banda. Tiros de canhão foram disparados durante o trajeto. Um coral de muitas vozes, acompanhado de uma orquestra sinfônica, cantou na entrada do caixão e em outros momentos da cerimônia.
Com uma grande imagem de Mandela ao fundo e 95 velas acesas representando cada ano que ele viveu, amigos, colegas de luta e dois netos discursaram durante o evento, relembrando passagens da vida do ex-presidente e agradecendo sua contribuição para o país, o continente e o mundo. Entre eles, estavam os presidentes da África do Sul, Jacob Zuma, da Tanzânia, Jakaya Kikwete, do Malaui e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, Joyce Banda.
Dúvida nos últimos dias, o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1984 por sua luta contra oapartheid (regime de segregação racional que vigorou no país no século passado), o arcebispo emérito da África do Sul Desmond Tutu, compareceu ao evento. Crítico do governo Zuma, ele tinha dito que não compareceria por não ter sido convidado e para não causar constrangimento à família Mandela. O governo, que organizou a cerimônia, informou ontem que houve um mal-entendido e que o nome de Tutu estava na lista de convidados.
Nandi Mandela, neta do símbolo do ex-presidente, fez o público presente rir lembrando alguns momentos de seu avô e disse que a maioar lição que ele deixou foi fazer sempre o bem e mostrar que, dentro de cada um, está a capacidade fazer o que se quer da vida. “Sentiremos saudades de sua voz severa, de quando estava aborrecido, de seu riso, porque tinha um grande senso do humor, e de suas histórias, pois era um grande contador de histórias.”
Na segunda-feira (16) comemora-se o Dia da Reconciliação na África do Sul. Maior símbolo dessa reconciliação, com a luta bem-sucedida pelo fim da segregação racial em seu país, Mandela terá uma estátua de nove metros de altura, que será inaugurada amanhã. Com os braços abertos, a imagem receberá, a partir desta segunda-feira, os visitantes que forem ao Union Buildings, sede do governo do país.
*EBC