Tardiamente, o estado mais negro da Diáspora Africana, a Bahia, comemora a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa, pelos parlamentares na Assembleia Legislativa, fruto das demandas do movimento negro do estado. Após meses de expectativa e intensos debates aqueles que militam na causa social festejam, como um marco histórico, a última terça-feira, 20 de maio. Para o Poder Executivo, autor da proposta, o Estatuto é um instrumento legal que possibilita profundas mudanças nas políticas públicas de promoção da igualdade racial. A proposta segue agora para sanção do governador Jaques Wagner.
De acordo com a justificativa da matéria, a versão baiana do Estatuto da Igualdade Racial, em breve Lei 20.785/2014, é destinada a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, defesa de direitos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e demais formas de intolerância racial e religiosa.
Ainda de acordo com o texto da proposição, o Estatuto também se constitui “como um marco das políticas públicas de Governo já concretizadas, estabelecendo o princípio da igualdade racial, em todas as estruturas da administração pública e sua gestão no estado”.
“Estávamos até o dia 19 discutindo a sentença de um magistrado que não reconhecia o candomblé ou umbanda como religiões, cometendo um grande equívoco. Hoje o que enxergamos, é uma Assembleia Legislativa desconstruindo a percepção desse juiz e mais do que isso, dizendo à população negra: vocês são dignos! E toda essa relação de dignidade está expressa em sua larga escala nesse estatuto”, comemorou Ataíde Lima, secretário interino de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia.
Segundo o secretário, a construção do texto da lei passou por um processo intenso de debates, obtendo o empenho da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial na implementação dos ajustes pertinentes ao texto anterior, o projeto de Lei 14.692/2005, de autoria do deputado estadual Valmir Assunção. O projeto foi levado à votação e arquivado, sendo desarquivado em 2011 por solicitação do camaçariense deputado estadual Bira Coroa (PT), Presidente da Comissão Parlamentar de Promoção da Igualdade, que conduziu a partir de então reuniões e audiências públicas para discutir o documento, se dedicando juntamente com outros parlamentares da casa para a aprovação do texto.
“A proposta estava desenhada pelo movimento negro, apresentamos em 2005 e depois levamos nove anos para aprovar a proposta. Agora temos que fazer uma batalha contundente para que as principais questões levantadas pelo movimento negro, que beneficiam a maioria da população desse estado sejam contempladas no processo de efetivação da lei”, avaliou Vilma Reis, socióloga e vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN).
Para Gilberto Leal, representante da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN), a lei não representa o estatuto dos sonhos, mas é um instrumento jurídico coerente e eficaz: “Não é perfeito, mas estamos com a sensação de tarefa cumprida, por termos nos esforçado ao máximo para fazer a melhor peça jurídica possível. A aprovação do estatuto é um marco histórico, e a lei será uma referência para outros estatutos dos demais estados. Esperamos com essa lei fortalecer o debate contra o racismo na Bahia”.
“Todas as entidades presentes precisam capitalizar isso porque essa é uma conquista do movimento, reconhecemos o papel e a importância do Governo do Estado, mas o momento mostrou que mesmo com divergências, temos força e unidade para construir o que é de interesse de todos e o melhor para a população. O estatuto não resolve sozinho o nosso processo de discriminação, mas nos permite pautar o debate e disputa na sociedade”, disse o deputado Bira Coroa.