A comoção causada pelo atentado à sede do jornal satírico Charlie Hebdo motivou milhares de pessoas a se reunir espontaneamente em várias cidades da França para homenagear os 12 mortos, prestar solidariedade às famílias das vítimas e repudiar o ataque – que já é apontado por alguns veículos de imprensa franceses como um dos mais graves de toda a história do país. De acordo com as autoridades policiais, três homens invadiram o prédio do jornal, na quarta-feira, 07 de janeiro, e mataram os recepcionistas, dois policiais, jornalistas e cartunistas famosos que participavam de uma reunião de pauta.
Os autores gritaram “Allah Akbar” (Alá é Grande) e “afirmaram pretender vingar o profeta” Maomé. Entre as vítimas do ataque estão o jornalista, cartunista e diretor do semanário Charlie Hebdo, Stephane Charbonnier, o “Charb”, 47 anos, e diretor da publicação, Jean “Cabu” Cabut, 76 anos, Georges Wolinksi, 80 anos, e Verlhac “Tignous” Bernard, 58 anos.
O jornal satírico tornou-se conhecido em 2006 quando decidiu voltar a publicar ‘cartoons’ do profeta Maomé, inicialmente publicados no diário dinamarquês Jyllands-Posten e que provocaram forte polémica em vários países muçulmanos.
Os homens armados com um fuzil kalashnikov e um lança-foguetes, que atacaram a sede do Charlie Hebdo, no centro de Paris, além de matarem 12 pessoas, deixaram 20 feridos, quatro em estado muito grave.
Luto na França
O presidente da França, François Hollande, decretou luto de três dias no país em memória das vítimas do ataque terrorista à sede do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris. “Chargistas de muito talento foram mortos. Hoje eles são nossos heróis e, por isso, amanhã será dia de luto nacional”, anunciou o presidente. Hollande informou que, ao meio-dia, haverá um momento de recolhimento no serviço público e convidou toda a população a participar. As bandeiras francesas ficarão hasteadas a meio mastro por três dias.
Hollande pediu unidade à população para responder à altura o crime praticado contra a nação. “A nossa melhor arma é a nossa unidade. Nada pode nos dividir, nada pode nos separar”, disse o presidente.
Mobilização nacional
Em Paris, onde a mobilização foi convocada por sindicatos, entidades de classe e partidos políticos, uma multidão está concentrada na Praça da República, que fica próxima ao local do atentado. Muitas pessoas portam cartazes e faixas com a frase, em francês, “Eu sou Charlie”.
“As pessoas não entendem o que aconteceu”, disse à Agência Brasil a jornalista Karima Saidi, que esteve na vigília e, depois, acompanhou um grupo que marchou até a prefeitura parisiense. “O que mais me chamou a atenção foi o silêncio. Às vezes, algumas pessoas gritavam algo em defesa da liberdade de expressão, mas, na maior parte do tempo, o silêncio era completo. É um ambiente muito pesado.”
Karima lembrou alguns dos atentados que aterrorizaram os franceses nos últimos dois anos, como o que ocorreu em 2012 em uma escola judaica de Toulouse, no qual quatro crianças foram mortas. A jornalista observou que, além da frase “Eu sou Charlie”, muitos dos cartazes e faixas expostos na vigília defendem que a melhor resposta ao terrorismo é mais democracia.
“As pessoas estão chocadas. O fato de não ter sido cometido com bombas, como das outras vezes, e de os alvos serem jornalistas contribui, mas a verdade é que há muito tempo um atentado não deixava tantos mortos”, acrescentou a jornalista.
Nascida na França, mas de ascendência árabe, Karima diz não ter presenciado nenhuma manifestação de xenofobia ou de intolerância religiosa. Segundo ela, neste momento, a maior parte das pessoas ainda está tentando entender o que aconteceu. Até esse momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do atentado.
“A grande maioria tem quase que certeza de que o atentado foi um ato religioso radical, mas há também os que se perguntam se não pode se tratar de uma ação de membros radicais da extrema direita para inflamar a situação. Como, até o momento os terroristas não foram presos, as pessoas não estão apontando para um determinado grupo, mas sim se perguntando sobre os limites da liberdade de expressão”, finalizou a jornalista.
No Brasil…
A presidenta Dilma Rousseff divulgou nota em que diz ter recebido, com “profundo pesar e indignação”, a notícia do “sangrento e intolerável atentado terrorista” à redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo.
“Esse ato de barbárie, além das lastimáveis perdas humanas, é um inaceitável ataque a um valor fundamental das sociedades democráticas – a liberdade de imprensa”, registra a presidenta da nota.
Vaticano e ONU condenam ataque
O Vaticano condenou o ataque terrorista à sede do Charlie Hebdo e o classificou como “dupla violência”, praticada contra pessoas e contra a liberdade de imprensa. O padre Ciro Benedettini, vice-diretor do gabinete de imprensa do Vaticano, disse a jornalistas que a liberdade de imprensa é tão importante quanto a liberdade religiosa.
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e outros altos funcionários da ONU demonstraram sua indignação com o atentado terrorista. “Foi um crime horrível, injustificável e a sangue frio. Foi um ataque direto contra pilares da democracia: a imprensa e a liberdade de expressão”, ressaltou Ki-moon. O governo francês decretou luto de três dias no país e pediu unidade à população. Até o momento, os três assassinos fortemente armados que praticaram o atentado não foram encontrados.
*EBC e Agência Brasil/Edição: BnL