Hoje estava na barbearia escutando os meninos falando besteiras… Besteiras do mundo capitalista, besteiras do mundo machista, sexista, homofóbico, racista!? Besteiras do não saber lidar com a alteridade? Besteiras do não conhecer a riqueza da humanidade em sua diversidade? Besteiras de “meninos”?
Ao mesmo tempo, eles mostravam a beleza e (im)perfeição de serem meninos, de não terem norte, de acharem que o valor da vida está só no dinheiro e na “motinha” que utilizam para irem à falida escola que não tem aula pertencente à rede de ensino estadual no centro da soterópolis.
E eles riam… e o que fazia belamente meu cabelo se acabava na risada (e eu ria mais ainda; mas pensava, refletia, me incomodava).
Eram palavras utilizadas que me soavam agressivas com o feminino, com o não heterossexual, com o supostamente diferente deles. E eu os ouvia e os provocava silenciosa e empaticamente na certeza de que muito do que diziam eram “só besteiras”… eram irreflexões….talvez (ir)reflexões mortíferas e viventes no amplo sentido.
Um deles disse ao falar de sexo: “E o que tem transar com travesti? Tem gente que gosta!” E falavam da coroa que comiam, da capenga, da irmã… Falavam, se vangloriavam…
Nas besteiras residem o belo, o trágico e o perverso da vida. Besteiras não são só besteiras…. São manifestações dos latentes e humanos desejos. Naquelas besteiras estavam as faíscas de nossos sociais sintomas….
Depois começamos a falar sobre escola… O mais engraçado dizia: “A professora chegou lá na escola e colocou que x mais y é igual a z…. Eu disse: oxe professora: é aula de matemática ou de português?” E caímos mais uma vez na gargalhada… E ele dizia: “Eu não gosto de nenhuma matéria da escola”. Prontamente, fiz minha leitura e disse: “Você já pensou em fazer teatro”? Ele não sabia responder. Talvez alguém nunca tivesse feito essa intervenção, mas fiz. Ao mesmo tempo em que ria, eu me incomodava. Pensei: “Se eu fosse professor deles, iria fazer miséria na cabecinha deles”!
Interessante que um disse no início da interação: “O senhor tem cara de professor”! E eles riam muito mais!
Tem horas que me acho mesmo. Me acho porque sou muito feliz com minha profissão, com meu ser renovado, comigo mesmo. Sofro muitas vezes, mas já riu bastante de meus sofrimentos. Eu apenas pensava: “Meu Deus, se fossem meus alunos”… Eu os amava como filhos meio perdidos, amava-os!