Passava das 21h quando o farol do carro iluminou a rua escura e revelou uma cena, à primeira vista, preocupante. Uma meia dúzia de crianças corria em polvorosa. Seria algum tiroteio desses comuns em bairros periféricos da Soterópolis? A dúvida e medo logo surgiram.
Os ocupantes do veículo, em silêncio, com caras de susto, imaginavam tal cenário.
– Um, dois, três, quatro…
Uma das crianças, recostada sobre um muro, com o braço esquerdo escondendo o rosto, ao abrir contagem, denunciou o que de fato ocorria naquele cenário misterioso…
Surpresa!?! Elas brincavam de pique esconde! Isso mesmo, aquela brincadeira onde a turma se esconde e aquele que perdeu no “par ou impar” tenta encontrar os demais.
– O quê? Exclamou um dos ocupantes do veículo.
– Nossa! Quanto tempo não se vê crianças fazendo criancices!!! Comentou outro.
Aqueles meninos, em meio a uma rua deserta, mal iluminada e estereotipada de um bairro periférico de Salvador resgatavam, na verdade, uma essência da infância há muito perdida em shoppings centers, smartphones e games típicos da vida urbana.
É como se reescrevessem, com certa picardia, a memória da infância de muitos adultos de hoje, que se esqueceram da tenra idade e deseducam seus filhos com trecos tecnológicos.
– Brincadeira de criança, como é bom, como é…