Caríssim@s, na “produção” de hoje deixo-me escrever pelas mãos de uma amiga que me ensinou a beleza das canções atravessadas pela primazia das palavras. A música é esse instrumento que nos atravessa e quando nos deparamos com o belo, vamos descobrindo, aos poucos, a beleza que há em nós e isso não nos impede de acessar nossas feiuras, pois hoje bem sei que é a partir daquilo – que outrora negava em mim – que me humanizo, tornando-me mais belo e aceitando-me como sou: “misto de beleza e imperfeição” que merece ser feliz.

Foto: Claudia Magnólia

Foto: Claudia Magnólia

Deliciemo-nos, portanto, nas letras que nos “cristinificam”. Desde já, muito obrigado, Cris!

Logo abaixo, seu belo texto:

Dedicado a sua militância, querido Adailton Conceição Precioso de Souza.

Um corpo que se esvai

Ela (ele) ou os dois, uma compleição híbrida.

Um corpo de sorriso difuso anda rumo à vida, às certezas de um porvir cálido, sem acomodação para a taciturnidade.

Eu o vejo, observo amiúde, e em uma dessas espiadelas, me deparei com olhares pérfidos e insinuações abjetas em sua direção. Atos desditosamente sólitos. O fato não o detém, nem lhe causa pusilanimidade: ele se movimenta invariavelmente seguro, reto, pois sabe que a alma transcende uma estrutura física.

Senti-me impotente e infeliz. O que já era abissal em mim tornou-se ainda mais erosivo. Um buraco de fundo inalcançável. Refleti: ali naquele corpo que rejeita o que é soturno, mora sabores, mas também dissabores, afinal, assim é a existência. Não há como escapar de seus infortúnios; mas quando há força, é possível fustigá-los para que provem o próprio veneno.

Um corpo se esvai paulatinamente, metamorfoseando, dando lugar a outro mais sinuoso em busca de autoafirmação. Muitos o veem como um inseto gigante que deve ser enclausurado em um quarto, entregue ao fel até se dissipar.

Entretanto, não capitula. Segue!”

Cris