…Lembranças e imagens de onde se ouvem todos os silêncios.
Foi tanto o que vivi nessas fotos, que mal consigo encontrar as palavras, mesmo quando tudo o que eu quero é explicar direitinho cada pedacinho de caminho que experimentei nessas águas vermelhas de Oxum.
Só sei que de repente eu estava ali, entregue à imensidão de universos que é a Chapada Diamantina. Respirando a brisa suave da Cachoeira da Fumaça, que de tão alta que é, faz tudo virar arco-íris. E é incrível e mágico como eu simplesmente não queria estar em nenhum outro lugar do mundo em todos aqueles momentos.
O tempo mesmo já nem existia, no sempre igual dos meus infinitos. Porque naquele presente, eu só queria ser. E a minha felicidade consistia em sentir os mesmos gostos, dia sim, dia sim.
Tinha o palmito de jaca, que derretia na boca, a cada fim de tarde. O pf da Dona Beli, que de tanto, era até colorido. E tinha a calçada da Rosa, a cada início de noite, com gosto de pizza de rúcula e suco de maracujá.
Ainda formulo minhas teorias sobre a magia daquele maracujá, que perfumava meus sonhos a cada lua que nascia iluminando o gerais. É que eu sentia um bem. O dia amanhecia e tudo era silêncio. E eu conseguia ouvir todos os silêncios.
Quando dei por mim já não queria mais ir. Só ficar. E ser um pedacinho naquele tanto de tudo e nada.
Hoje, encontro meu aconchego nas palavras suaves de Susanna Tamaro, pois “não era alegria o que eu estava sentindo, mas profunda felicidade. Não havia euforia, exaltação, não me sentia melhor, nem pior. O que crescia dentro de mim era apenas uma serena consciência de existir”.
Esse é um trecho do livro Vá Aonde o Seu Coração Mandar, que por ordem do destino, ou sim, foi o único livro que eu levei para as minhas duas semanas de amor na Bahia. E não pense que acabou. Na próxima tem mais.
*Outras Palavras/ Por Mariana Caldas, na coluna fotográfica Outro Lugar