Os encontros cênico-políticos exploram novas tecnologias e expressões de multi-artistas baianos e convidados durante 24 dias, culminando na apresentação de ParaIso
De 22 de fevereiro até 18 de março, o coletivo cênico CORRE compartilhará seus rastros de pesquisas em narrativas políticas de corpos gays, negros e identidades socializadas através da ação Imersão ao ParaIso, que se dá no tempo presente. O projeto é integrado por residências, bate-papos, lives e processos criativos, sendo exibido diariamente em diversas plataformas digitais – Instagram, Youtube, Zoom e Tumblr -, das 14h até 18h. A imersão precede o lançamento do espetáculo inédito ParaIso com estreia dia 3 de abril, uma trama que versa sobre pandemias, masculinidades, sorofobia e seus impactos à identidade e vida do homem gay, com ênfase nas realidades racializadas.
A proposta do grupo revela artisticamente uma atualização das assimilações discursivas e políticas circulantes no cenário pandêmico da primeira onda brasileira de HIV/AIDS nos anos noventa, em paralelo com a pandemia do coronavírus (COVID-19) em 2020. Para isso, o CORRE visita “Devassos no Paraíso”, obra do dramaturgo, jornalista e cineasta João Silvério Trevisan – que além dos registros históricos acerca de sexualidade e soropositividade, discute direitos civis, inserção social de minorias e intolerância.
A Imersão ao ParaIso é dotada de suportes visuais e estruturas virtualizadas, dentro dos parâmetros de biossegurança vigentes, propondo diálogos com o espectador através de relatos autobiográficos, depoimentos em vídeos, materiais de imprensa, jogos cênicos, musicalidade e movimento. A TRAMAturgia utiliza a rede como um tecido estendido para criar um trajeto tal qual um vírus percorre pelo corpo, levantando crítico-afetivamente a questão: “quais são os corpos que a sociedade escolhe salvar e descartar?”.
Nos 24 dias, as expressividades biográficas do coletivo CORRE, que é integrado pelos multiartistas Anderson Danttas, Igor Nascimento, Marcus Lobo, Luiz Antônio Sena Jr e Rafael Brito. O convite foi estendido e aceito pelo ator e dramaturgo Ronaldo Serruya e diretor teatral Fabiano de Freitas (DADADO), que versarão sobre Como Eliminar Monstros: Olhares Decoloniais a partir do HIV/Aids, uma residência conjunta entre os dias 22 e 26 de fevereiro que busca provocar e apresentar produções artísticas que tem em pesquisas artísticas o HIV como eixo temático, numa perspectiva de produzir olhares decoloniais sobre esse recorte.
Georgenes Isaac, integrante do Coletivo das Liliths, também integra a programação de residências artísticas, entre os dias 01 e 05 de março, com a temática Sistema Imune – uma busca pelo corpo transgressor, uma experiência intersubjetiva que tensiona a relação de hibridação entre o espaço, tempo, memória, ancestralidade e corpo. Serão levantadas na experiência laboratorial as consequências psicossociais impostas pelas epidemias da Covid-19 e o HIV/AIDS, sobretudo, nos corpos dissidentes.
“É uma espécie de experiência cênica de cura-morte-vida. Uma experiência “pós-vida-morte”. Entendendo aqui as relações entre corpos dissidentes e os processos de adoecimento social”, explica o artista preto e LGBTQIA+ – Georgenes Isaac é soteropolitano, nascido no Curuzu.
Entre os dias 15 e 17 de março, a Imersão ao ParaIso trará as experiências de artistas e especialistas quanto e com corpos positivos (HIV e COVID-19), através de lives a serem transmitidas no perfil do Instagram do Corre – Coletivo Cênico (@corre_ba). Ramon Fontes, que tematiza em A escrita soropositiva, uma pesquisa acadêmica com fontes em dramaturgias, cartas e poesias de soropositivos, colocando em pauta suas escrevivências quanto corpo positivo preto não retinto.
Xan Marçall, mulher trans amazônida do Belém do Pará, atriz performer integrante do Liliths e escritora versará sobre seu corpo positivo para HIV há 6 anos, levantando como o vírus, em concomitância ao seu processo transicional, tem sido um deflagrador de verdades em Urgências sociais e artísticas para um corpo trans soropositivo. Para fechar o ciclo de conversas ao vivo, Márcia Rachid, em HIV/AIDS e COVID-19 – Relações Epidemiológicas, trará sua experiência profissional enquanto infectologista nacionalmente reconhecida para traçar um paralelo entre as epidemias, numa abordagem mais estatísticas e científicas.
O coletivo cênico convoca ainda instituições atuantes nas campanhas de prevenção e combate à AIDS/HIV para bate-papos integrantes deste rastro de pesquisa que é a Imersão ao ParaIso. Essa ação busca instigar espectadores a transformarem as telas—assimiladas como espaços de confinamento, em lugares de libertação gradativa. Desprendendo-se com auxílio das artes, pesquisas, expressões e técnicas, das zonas opacas da desinformação e fobias sociais construídas historicamente.
O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal”.