Deflagrada a campanha de 2014. A Internet já se equipara à televisão como plataforma principal no embate entre as candidaturas e projetos políticos que se põem à mesa. Com um adendo: a web é o único tabuleiro de mídia no qual se mesclam comunicações institucionalizadas e de militantes com equidade de espaço e tempo.

O desafio será o de buscar neutralizar e contra-atacar as ofensivas de manipulações, memetizações e boatos que já infestam a net. Foto: Jason A. Howie/Flickr

O desafio será o de buscar neutralizar e contra-atacar as ofensivas de manipulações, memetizações e boatos que já infestam a net. Foto: Jason A. Howie/Flickr

Não se espere tons pastéis neste enredo. Ao contrário. Memes, informações falsas e todo tipo de vilania ocorrerão na rede. Nada será considerado cabeça ou pescoço. É tudo canela.

Supõe-se que as candidaturas majoritárias já devem estar preparadas para esta disputa.

Cada gesto, sorriso, afago ou o mais fugaz e despretensioso movimento pode se transformar em navalha afiada para o arsenal adversário.

O cumprimento da presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, ao zagueiro alemão Boateng, foi editado e transfigurado num ato racista. A imagem, grosseiramente manipulada, induzia que Dilma declinou de apertar a mão do atleta, que é negro. Artimanha ferina.

Não que manipulações na mídia sejam prerrogativas da Internet. Sempre existiram. A Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, manipulava contra Getúlio Vargas; a Rede Globo manipulou a edição do debate na disputa de 1989 entre Lula e Collor, dando nítida vantagem para este último; a Folha de São Paulo publicou ficha falsa de Dilma na eleição de 2010. A diferença entre os dois primeiros fatos e o último é que a lambança da Folha foi desmascarada no mesmo dia que o impresso circulou. A Internet já era uma força.

O acesso à rede cresceu nos últimos quatro anos. Hoje, no Brasil, já são 102,3 milhões de internautas. A eleição será disputada num ambiente de mídia multidirecional ainda mais amplo do que a anterior.

As coordenações de redes sociais terão muito trabalho. Não apenas o de postar conteúdos advindos das coberturas das candidaturas. Esta é a tarefa mais fácil. O desafio será o de buscar neutralizar e contra-atacar as ofensivas de manipulações, memetizações e boatos que já infestam a net.

Tarefa que não requer apenas desmentir e esclarecer, mas, sobretudo, entender o tamanho do estrago para saber agir estrategicamente. Para tal, é preciso conhecer os mecanismos – softwares – de monitoramento e aplicar metodologias que garantam o retorno preciso às informações para leituras reais de cenários. Neste quesito, não há espaço para improvisos.

De nada adiantará respostas concisas e esclarecedoras sem que se saiba a dimensão da difusão orgânica do petardo lançado. No caso do Facebook, o alastramento espontâneo e os modos de repercussão de determinada comunicação (quais tipos de perfis estão curtindo e compartilhando? E em quais nichos?).

Com variáveis diferentes, o mesmo pode ser mensurado em outras redes sociais. Olhar especial para o Twitter, que embora menor do que o Facebook, é a rede preferida pela maioria dos chamados formadores de opinião.

Outro aspecto relevante é o próprio ator político como protagonista. Se tem traquejo, encara; se não, entrega ao assessor que saiba fazer comunicação política em rede com profissionalismo e qualidade.

O “boneco de Olinda”, a manipulação da conta por “assessores” nem sempre atentos às linguagens e estratégias, ou mesmo a condução do perfil de forma tosca, induzindo à constatação de que é um movimento apenas eleitoreiro, pode resultar num tremendo tiro no pé. O internauta/eleitor saca. E deleta. Ninguém quer ler proselitismo programado.

Alguns políticos se ambientaram à rede de maneira singular. Destaco o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). O parlamentar, a despeito de conduzir excelente atuação no parlamento, se utiliza das suas contas nas redes sociais para, de fato, interagir com o eleitorado. Sua figura pública não difere na performnace on ou off line. Ali está o cidadão que debate temas complexos e, ao mesmo tempo, discute capítulo de novela ou questões de menor relevância. É punho próprio. Quando não, se utiliza de eficiente assessoria que assume claramente o discurso como tal, sem comprometer o político Jean. O jornalista soube utilizar com maestria as ferramentas que debateu academicamente.

Jean

 

Prevejo que Jean não tenha menos que 200 mil votos na sua reeleição. Parte considerável desses votos, garanto, conquistados via comunicação direta com o público.

No mais, é bom lembrar: conduzir campanhas políticas na Internet é trabalho para profissionais. Entusiastas, militantes e ativistas são bem vindos, mas não devem estar à frente destes processos, sob pena de comprometer os próprios projetos políticos que abraçam. Qualquer barbeiragem prejudicará seguramente seu candidato ou candidata. Comunicar produtos políticos na Internet é trabalho extremamente mais complexo do que envio de press releases à moda da velha mídia.