Dalva sorria, serelepe. A filha Ananda esguichava-se para um lado e para o outro, de prancha à 180 graus de temperatura em punho, esticando as velhas madeixas da mãe.
À noite um baita aniversário de 15 anos, de uma das oito sobrinhas, aguardava Dalva e seus cabelos esticados. Em frente ao salão de beleza improvisado na sala de estar, o genro, Basílio, comia um prato de feijão, com farinha e molho lambão, e dividia sua atenção com o embelezamento da sogra e o futebol, na tevê.
– Tudo bem, dona Dalva? – Perguntou Basílio ao ver lágrimas saírem dos olhos fechados da sogra, logo após ela receber um telefonema.
A filha Ananda continuava empenhada no estica e puxa e nem percebera o sofrimento da mãe. A fumaça subia da cabeça da velha a cada alisada da prancha.
– Aconteceu alguma coisa com algum parente? É caso de morte? A senhora não para de chorar, estou muito preocupado! – Insistia o genro.
– É Ananda (snif), ta queimando minha cabeça (snif), tá queimando o couro (snif). Peste de prancha quente (snif)!