Dê um google em “mensagens dia das mulheres” e depois me diga se achou algo diferente do que encontrei. O que eu encontrei foram inúmeros textos, à primeira vista bonitinhos, mas, que não resistem a uma mínima análise de conteúdo. Tem sempre algo de bom, como uma reprodução de algum texto declaradamente feminista e os simples e vezeiros “Feliz Dia da Mulher – 8 de Março”.
Entretanto, a maioria esmagadora e cruel ainda é formada por mensagens sobre o quanto ser mulher é ser linda, perfeita, inspiradora, capaz de transformar qualquer dor em alegria (sic), não se deixar abater por nada, ser guerreira, forte, batalhadora, delicada, dedicada, só amor (sic), se sentir feliz – ou pior, encontrar felicidade – com seu corpo, seu rosto, seu cabelo, ser segura de si, não se deixar dominar, guiar, ser inspiração eterna de tudo e todos, a mãe perfeita, a filha perfeita, a namorada perfeita… qualquer coisa perfeita e linda.
Tudo lindo, não é? Não.
Pelo simples detalhe de que vida real não é estrita assim.
Quantas mulheres existem nesse mundo que a sociedade considera feias, mas se percebem lindas? Ou que a sociedade considera lindas, mas se percebem feias? Quantas estão depressivas, destruídas, sofrendo e querendo apoio ao invés de estarem iluminando vidas alheias? E quantas estão sim, de salto alto, batom vermelho, alegres e fazendo caridade? Quantas estão lutando para entrar no manequim que as fará mais felizes e quantas não gostam muito do que vêm no espelho, mas também não estão nem aí?
Milhares. Vivendo dessas e de inúmeras outras formas. Vivendo sucessos e derrotas diárias. Às vezes flutuando entre ambos, como é normal acontecer com qualquer ser humano. Às vezes tendo um deles como aparentemente determinante.
Para quem são essas mensagens?
Vocês que as criam, por favor, pensem: quem são as mulheres para quem vocês estão falando? As trans? As lésbicas que a sociedade rejeita por terem jeito, trejeitos e trajes ditos masculinos? As lésbicas que “nem parecem”? São as moradoras de rua? As que abortam por não verem outra alternativa e passam o resto da vida se punindo e sendo punidas? As depressivas? As sexualmente violentadas? As pretas pobres? As que vivem catando resíduos em lixões? As pretas ricas? As figuras públicas que têm combatido lindamente todas as formas de machismo? As que estão dentro do padrão global de beleza? As que não estão? As que domam um leão por dia? As que nunca precisaram sequer pensar nisso?…
Não cabe nesse texto a multiplicidade do que é ser mulher. Como também não caberia, se fôssemos falar de homens. Somos humanas também. Lembrem disso: somos humanas também.
Toda tentativa de padronização é cruel e machista, ainda que disfarçada de positividade. Como, aliás, acontece muito.
Uma dica para quem quer realmente homenagear mulheres: pesquise. Entenda porque 8 de março. Depois, ao invés de pensar numa mensagem bonitinha com imagens de flores, salto alto, chocolate ou batom vermelho, pense em algo que gere empoderamento. Que possa fazer a pessoa que ler se sentir bem, não por ser perfeita, mas por ser quem ela é. Seja lá o que ela for.
Se faltar ideia, busque em portais feministas. Vai encontrar várias, que ensinam como defender o direito feminino é defender a liberdade de ser quem, como e onde quisermos.
E que o “feliz dia das mulher” possa ser lembrado nos demais dias do ano, para todas.