Acelerando mudanças. Esse é o tema da conferência da ONU em homenagem ao Dia Mundial da Água, celebrado no próximo 22 de março. E a mensagem não poderia ser mais atual: a contaminação de nascentes, oceanos e rios vêm crescendo nas últimas décadas de todas as formas e derivados de plástico são um dos principais vilões. E o problema vai muito além das garrafas pet que podem ser vistas boiando nas praias. As partículas invisíveis aos olhos também contaminam animais, solo e agricultura e, consequentemente, os alimentos ingeridos pela população.

Um diagnóstico feito pelo programa Lixo Fora D’Água, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mostrou que os resíduos plásticos correspondem a 48,5% dos materiais que vazam para o mar. E não é apenas aqui: estudo da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, aponta que as terras agrícolas europeias se tornaram o maior reservatório global de microplásticos, com cerca de 31 a 42 mil toneladas – correspondentes a 86 a 710 trilhões de partículas de microplásticos.

E isso tudo chega em nosso organismo: em um ano, pessoas ingerem, em média, de 74 mil a 121 mil partículas de microplástico. E esse é um dos motivos para que, na conferência do Dia Mundial da Água deste ano, a ONU tenha feito um chamado para que todas as pessoas, comunidades e famílias se unam na luta para diminuir a poluição de plástico pelo mundo.

Políticas e ações de reciclagem contribuem para a melhora, mas segundo Luiz Penna, diretor de sustentabilidade da associação turística Associação de Hotéis Roteiros de Charme, a redução do consumo de plástico é essencial para que essa realidade mude. “É importante fazermos gestão do que já existe, mas temos que reduzir ao máximo nosso consumo e isso significa mudar nossos hábitos no dia a dia, exigir que governos refaçam suas políticas e que empresas mudem sua forma, por exemplo, de embalar produtos. A pandemia atrasou um pouco alguns processos por conta das medidas de higienização e descarte, mas temos que retomar o assunto com urgência”, afirma.

Ações em parcerias

Pioneira em práticas políticas de sustentabilidade, a associação foi criada em 1992, durante a Conferência do Rio, a Eco 92, e tem como compromisso reunir em seu guia apenas hotéis engajados em políticas de sustentabilidade e preservação, o que inclui, é claro, gestão, redução, reciclagem e diminuição de plásticos no meio ambiente.

Desde o início de 2020 (antes da pandemia), associação uniu forças ao programa Global Tourism Plastic Initiative, das Nações Unidas, para reduzir o uso de plástico no turismo e enfatizar junto aos seus hotéis as práticas de gerenciamento sustentável do plástico, para que se tornem prioridade entre as outras práticas de sustentabilidade já difundidas pela Roteiros de Charme. Exemplo de iniciativa de seus associados aconteceu no mês de fevereiro em Maragogi, em Alagoas, um dos destinos litorâneos mais visitados no país.

Em parceria com a prefeitura da cidade, a Pousada Camurim Grande, associada ao guia, se uniu à iniciativa Voz dos Oceanos, liderada pela Família Schurmann, que percorre o mundo combatendo a poluição plástica nos oceanos. Ainda este ano, uma das ações realizadas na praia urbana do município, chamada “Mutirão de Limpeza Voz dos Oceanos” que, com a participação de voluntários da Associação Coração Valente, realizaram uma ação de conscientização e coleta de lixo.

“A preservação da qualidade da água é uma prioridade humanitária e, além de ações de conscientização, de coleta e gestão de lixo, reflorestamento de áreas degradadas também é importante para restaurar mangues e nascentes, que é uma das ações que temos aqui em nosso hotel. Eventos como esse que fizemos, em parceria com o Voz nos Oceanos é fundamental, pois alerta e constrói uma conscientização das populações locais em todo o globo e são as pessoas que podem e devem cobrar ao poder público medidas de preservação do meio ambiente”, comenta Cristiana Freire, sócia-diretora do hotel.

Outros programas de boas práticas de conservação de energia e água, redução e reciclagem de resíduos, gestão responsável de efluentes e redução de emissões nas instalações são parte das políticas da Roteiros. A associação tem em seu Programa de Sustentabilidade, nascido sob a inspiração de seu Código de Ética e Conduta Ambiental, diretrizes voltadas para uma atuação de seus associados em seus destinos turísticos como protagonistas de iniciativas conjuntas com empreendedores locais e moradores.

“O futuro do turismo depende da sustentabilidade, tanto para destinos diretamente conectados à natureza, mas também para aqueles urbanos. Em qualquer situação a chave para a sustentabilidade reside na capacidade de entendimento e organização entre atores privados, públicos e sociais interessados no desenvolvimento do setor. Desta forma, os empreendimentos da área precisam não só cobrar políticas de melhoria, mas também ser participativos no processo, com as condições efetivas”, finaliza Penna.