Minha vida era um palco iluminado. Eu vivia vestido de dourado. Palhaço das perdidas ilusões”… Serelepe, ‘rei da música negra’, ‘filho da bossa e pai do rap’ suas cantigas – sim cantigas! -, contagiavam pelo seu jeito espontâneo e malemolente. Não mais aqui entre nós, no céu, que é para onde devem ir personagens tão ativos e que exalam alegria e irreverência, Jair Rodrigues com certeza está divertindo o povo de lá. É verdade, a música popular brasileira tem ficado cada dia mais triste. Uma geração icônica, que marcou épocas, tem ido embora.

Tristeza, por favor vá embora. Minha alma que chora. Está vendo o meu fim”… As lágrimas saltaram como um ladrão, coisa incomum de acontecer frente a fatos funestos envolvendo famosos. Mas foi Jairzão. Suas músicas e traquinagens nos palcos marcaram infância, adolescência e fase adulta. Era um fã, por mais que não me desse conta disso. Ele foi embora, morreu, de improviso, como era de seu feitio quando vivo.

Deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra lá, vem pra cá, o que que tem?”… Aos 75 anos ele se foi, vitimado por um infarto no miocárdio, na casa onde morava, em Cotia, São Paulo, na fatídica manhã de 08 de maio de 2014. Como herança, deixou-nos, além de seu vasto acervo de sucessos musicais, duas pérolas que rebrilham na cena musical do país: seus filhos Jairzinho e Luciana Mello.

Na minha casa todo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba”… Foi muito bom ouvir sambas gostosos com ele, na voz dele, cantando com os filhos ou solo. De 1939 a 2014, período que Jairzão marcou seu nome na história mais bela do Brasil, de ‘Disparada’ a ‘Casa de Bamba’, suas músicas jamais serão esquecidas. Um salve do Bahia na Lupa a Jair Rodrigues. Fica agora a saudade.

Foto: Nelson Oliveira/Flickr

Foto: Nelson Oliveira/Flickr