Natural de Alagoinhas, Bahia, o pintor Alberto Valença deixou suas poéticas e impressionistas pinceladas mundo a fora. Ele nasceu em 1890 e, quase um século depois, em 1983, faleceu, lúcido e com um legado cultural de valor inestimável para a família e apreciadores da sua vívida arte. As centenas de pinturas e desenhos dos lugares onde viveu, devidamente documentadas e reunidas presencialmente e por meio de recursos multimídia, dão vida à exposição “Conversando com a Pintura de Alberto Valença”, que estreou no final de 2021 e segue aberta à visitação gratuita até o dia 29 de janeiro, no Museu de Arte da Bahia (MAB), no Corredor da Vitória, Salvador. Em entrevista especial a este Catado de Cultura, a organizadora da expo, Vera Spínola, conta ao jornalista Cadu Freitas detalhes da obra de Valença. Casada com Antônio Alberto Valença, filho do pintor baiano, a escritora narra as características ímpares do traço do pintor.

Vera lançou, em conjunto com a exposição, um romance de mesmo nome.

Alberto Valença morou a maior parte da sua vida em Salvador e arredores, quando pintou, numa época em que a fotografia era em preto e branco, as cores, paisagens e expressões de uma Bahia secular. Na temporada parisiense, quando frequentou a Academia Julian, predominaram os retratos; na Bretanha, noroeste da França, as paisagens e retratos da população camponesa e pescadora; no Rio de Janeiro, os retratos.

Vera Spínola conduzindo uma visita guiada à exposição, no MAB. | Foto: Cadu Freitas

Um dos espaços da exposição no MAB é dedicado ao mestre Manoel Lopes Rodrigues e aos contemporâneos da Escola Baiana de Pintura: Presciliano Silva, Manuel Mendonça Filho, Raimundo Aguiar e Emídio Magalhães.

A expo no MAB reúne 70 trabalhos de autoria de Valença, dispostos em aproximada cronologia, dos anos 1900 a 1973. A primeira fase, com pinturas da cidade da Bahia, vai até 1925, quando partiu para estudar na França.

Da esquerda para a direita: Antônio Alberto Valença, filho do pintor, Vera Spínola, escritora e organizadora da expo, e o vice-governador da Bahia, João Leão, em visita recente ao MAB. | Foto: Matheus Lemos

Do período 1926 a 1928, constam quadros feitos em Paris e na Bretanha.

Depois do retorno da Europa, no final de 1928, voltou a pintar a paisagem baiana até 1931, quando se transferiu para o Rio de Janeiro. Da fase carioca, neste núcleo, destaca-se o retrato do pintor Francesco Manna.

O jornalista Cadu Freitas registrando a entrada do MAB. | Foto: Matheus Lemos

Ao voltar para Salvador no final de 1933, iniciou um período bastante fértil como professor da Escola de Belas Artes (EBA), depois incorporada à Universidade Federal da Bahia (UFBA), até se aposentar em 1960.

Salão com quadros em ordem cronológica da época das pinturas. | Foto: Cadu Freitas

Após deixar compulsoriamente a docência, adotou o Convento do Carmo como ponto de apoio e continuou trabalhando, cercado dos monumentos, sinos e torres da arquitetura barroca.

Com a perda da visão, parou de pintar aos 83 anos, deixando uma marinha inacabada, quando a poesia e a cor lhe corresponderam, mas a forma não. Faleceu lúcido aos 93 anos.

Obras de Valença. | Foto: Cadu Freitas

A mostra é complementada por uma sala multimídia com trabalhos que não puderam ser levados ao MAB. No local, uma iluminação especial, música clássica e os quadros visualizados em um telão promovem uma experiência sensorial única para os visitantes.

A sala multimídia da expo. | Foto: Matheus Lemos

Valença pintava a beleza de um instante, de um efêmero nirvana, de um breve raio de luz sobre paisagens, figuras humanas e interiores místicos, mas não acrescentava elementos imaginários. Daí o valor iconográfico de sua obra.

No vizinho Museu Costa Pinto, há uma extensão da exposição, com 26 obras de paisagens baianas e francesas.

Foto: Cadu Freitas

Veja a programação:

MAB – Museu de Arte da Bahia. De terça a sexta das 13h às 18h e sábado das 13h às 17h

Museu Carlos Costa Pinto – seg. qua. qui sex das 14h30 às 18h